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Revista O Empresário / Número 102 · Novembro de 2006



A cada ano que começa, o brasileiro planeja manter as contas domésticas a salvo das tempestades. Apesar disso, o orçamento de muitos continua exposto a chuvas, raios e trovoadas, a julgar pelas estatísticas do IBGE que mostram a existência de 42 milhões de famílias endividadas no País. O calendário de 2006 chega ao fim e, mais uma vez, renasce a fé de que no Ano Novo tudo vai ser diferente e as finanças pessoais finalmente encontrarão abrigo seguro. Os especialistas justificam essa expectativa. “O fim do ano é propício a um balanço, é ponto de referência do ciclo que se fecha”, analisa Marcelo Klötlzle, professor da PUC especialista em finanças comportamentais. Além da psicologia, a calculadora confirma que essa é uma boa época para um arrocho nas contas. “Esse é o melhor período do ano para colocar as finanças em dia, pois temos uma melhor visão das despesas”, ensina o economista Francis Hesse, especialista em planejamento financeiro pessoal. Resta saber por onde começar essa reengenharia e como colocar as contas nos eixos. Para isso, os especialistas têm receitas que poderão fazer o dinheiro resistir às intempéries e chegar com sobras ao fim de 2007.

A sugestão inicial é uma unanimidade: para manter-se na linha é fundamental estabelecer uma previsão de gastos. Muitos estudiosos recomendam uma planilha mensal, mas o consultor financeiro Cláudio Boriola é ainda mais rigoroso. “No início, é desejável que a previsão de gastos seja checada a cada semana”, prescreve ele. “É como se puséssemos uma lente de aumento sobre as contas.” Quando a disciplina com os gastos se tornar automática, essa checagem pode ser feita a cada três meses.

Para o diretor financeiro do Grupo Carrera, Dener Bramont, planejar os gastos já é uma rotina. “Costumo dizer que ganhar dinheiro é uma virtude, gastá-lo bem é ir além”, recita. Dos R$ 10 mil que recebe líquidos, reserva entre 30% e 35% do valor para quitar todas as despesas. Quando passa disso, pisa no freio com relação às compras. Ele procura sempre poupar e recentemente comprou um apartamento ainda na planta. Cuidadoso, não esqueceu de fazer com que as prestações coubessem no orçamento planejado. No entanto, o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José de Oliveira, sabe que o zelo que Bramont tem com as contas nem sempre é a regra. E, sem conhecer os próprios gastos, fica difícil conseguir uma sobra. Na hora de poupar, Oliveira recomenda perseverança. “Se a pessoa queria guardar R$ 100 por mês e não conseguiu, junte R$ 200 no próximo mês, ou R$ 150 nos próximos dois meses”, ensina ele.

O casal de atores Alexandre Borges e Júlia Lemmertz mantém o controle rigoroso das contas durante o ano. Borges diz que 80% de seu salário é comprometido com o sustento da família. “Gasto muito com a remuneração das pessoas que trabalham lá em casa e com a educação dos dois filhos. Escola particular é algo caro”, diz o ator. Ele tenta compensar economizando nos supérfluos. “Não sou consumista”, completa. O consultor Boriola avalia que esta é uma providência importante para manter o orçamento em dia: evitar as compras por impulso, especialmente no fim do ano, com o 13º salário na mão. Ele criou a regra dos quatro P para gastar bem na hora de comprar. “Planejar, pesquisar, pechinchar e pagar à vista”, ensina Boriola. Para o economista Hesse, o 13º deve ser usado para quitar dívidas com cheque especial, cartão de crédito e financeiras. “Pagamento de juros é um dinheiro jogado fora.” E, caso sobre um pouco no final do mês, Hesse recomenda que o recurso tenha um destino. “Dinheiro parado é fácil de gastar”, diz. Assim, desarmada a armadilha das dívidas, o ano de 2007 tem tudo para ser o da realização dos sonhos.

• 35% do salário tem de ser reservado para as despesas. Caso os gastos
ultrapassem essa porcentagem, seja prudente com as compras

• Se não foi possível poupar durante o mês, compense nos meses posteriores

• Envolva a família na disciplina com os gastos. Com todos comprometidos,
é mais fácil cumprir o planejamento

• Não deixe dinheiro parado na conta. Dê sempre um destino: invista-o ou
guarde para um objetivo específico

• 10% do salário deve ser guardado como uma reserva estratégica para
imprevistos e gastos urgentes não programados
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