O abade João Pequeno pensou: “preciso ser igual aos anjos, que nada fazem, e vivem contemplando a glória de Deus”. Naquela noite, abandonou o mosteiro de Sceta e foi para o deserto.
Uma semana depois, voltou para o convento. O irmão porteiro escutou-o bater na porta, e perguntou quem era.
“Sou o abade João e estou com fome” - respondeu.
“Não pode ser”, disse o irmão porteiro. “O abade João está no deserto, se transformando em anjo. Já não sente mais fome e não precisa trabalhar para sustentar-se”.
“Perdoe meu orgulho”, respondeu o abade João. “Os anjos ajudam a humanidade; este é o trabalho deles e por isso não precisam comer, apenas contemplar, mas eu sou um homem. A única maneira de contemplar esta mesma glória é fazendo o que os anjos fazem – ajudando meu próximo. O jejum não adianta nada”.
Ouvindo o gesto de humildade, o irmão porteiro tornou a abrir a porta do convento.