O "www" pode estar com os dias contados. Explosão de redes sociais, acesso à web pelo celular, necessidade de agilidade na informação e, lógico, a chatice de ter de decorar um monte de endereços do tipo www.site.com.br: tudo conspira para que os endereços de internet, as chamadas URLs (Uniform Resource Location ou, em português, Localizador de Recursos Universal), saiam de moda para dar espaço a outras formas de se acessar sites. E, assim, tornar a navegação mais humana, deixando de lado códigos voltados para máquinas.
Se em 1991, quando as URLs foram criadas, para saber sobre um carro novo era preciso descobrir o endereço online da montadora, hoje basta colocar o nome do carro no Google. Ou um amigo pode enviar um link no Twitter. Ou você pode apontar a câmera do celular para um anúncio do jornal e não ter de digitar o endereço nas teclinhas pequenas do aparelho. "Desde o início, as URLs são para as máquinas. Esses endereços são a base do funcionamento da internet", diz Ian Jacobs, membro da W3C.
Para se ter ideia dessa mudança - que começou tecnológica, mas tornou-se principalmente comportamental -, sites com URLs fáceis de se lembrar como MSN, Orkut e YouTube são alguns dos termos mais buscados no Google. "As pessoas preferem pesquisar a escrever na barra de endereço", diz o arquiteto da informação Guilhermo Reis. "É mais prático. Se errar a grafia, por exemplo, o Google corrige."
A questão fez que o próprio Google, ao lançar o seu navegador, o Chrome, optasse por não ter uma barra só para endereços. Ela serve tanto para digitar uma URL como para fazer uma busca. "As pessoas não se preocupam em lembrar dos endereços e, de uma forma ou de outra, já confundiam o campo para a URL com o de buscas. O que fizemos foi facilitar", explica o responsável mundial pelo Chrome no Google, Brian Rakowski.
Outro ponto: se lá no começo da internet a ideia era descobrir a URL do site para navegar na página, agora, segundo Rakowski, os internautas esperam encontrar a informação que querem diretamente. Ou seja, achar o pedaço do site que já fala sobre o assunto e não ter de ficar procurando dentro dele. Aí, além da busca do Google, que já permite clicar no link relativo à informação desejada sem passar pela home, há outra possibilidade que se dissemina cada vez mais, que é usar redes sociais, como Twitter e Facebook, para navegar online.
Os dois serviços, principalmente, colocaram um ritmo frenético na troca de links pela internet. O movimento já vinha com Wikipedia, blog, MSN, listas de discussão e outros sites do tipo 2.0. Mas, pela própria natureza destas duas redes - instantaneidade e agilidade -, isso se acentuou. Os internautas trocam cada vez mais links. E, com esses links, vieram os encurtadores de URL, que tornaram minúsculos endereços gigantescos. Não são fáceis de decorar, mas ajudam a postar.
Tanto a busca interna do Google nos sites como a troca de links do Twitter causaram outro golpe à URL: se antes o internauta ia a um site específico para buscar informações, agora quer acesso a elas independentemente do site em que esteja. E com uma chancela de credibilidade. "O filtro não é mais a URL, mas o destaque que o site tem no Google ou a indicação do amigo. Esses dois quesitos criam a relevância hoje", explica Roberto Martini, sócio da agência de publicidade digital Cubo.cc.
Em celulares, a situação é mais complexa. Digitar URLs, mesmo que pequenas, é muito mais chato no tecladinho do aparelho. Mas já há tecnologias de realidade aumentada em que não se digita nada. Num anúncio de jornal, você posiciona a câmera do celular sobre um quadradinho e pronto. O site se abre.
Se a URL irá morrer? "Para as máquinas não. Para as pessoas, irá perder cada vez mais relevância", afirma um dos "pais" da internet no Brasil, Demi Getschko, do Nic.br, o órgão responsável pelo registro de URLs no País. Mesmo assim, diz Pedro Cabral, diretor da Agência Click, ainda é uma forma de dar credibilidade ao site. "Mesmo que não cheguem pela URL, as pessoas confiam mais quando olham na barra de endereços e veem que o site tem uma marca. Isso ainda traz credibilidade."