Senhor juiz, pare agora... o divórcio não vai acontecer. O professor de biologia Antônio Guimarães, de 55 anos, quase pronunciou a frase acima em plena audiência judicial. Às vésperas dela, ele voltou atrás de sua decisão de se separar. O caso de Antônio exemplifica o de tantos casais para os quais o divórcio significa trocar um problema por outro. Por que isso acontece?
Para o psicólogo e pesquisador Armando Corrêa de Siqueira Neto, muitas vezes, a falta de diálogo leva à má compreensão do outro e de si mesmo. E isso dificulta o entendimento do porquê da separação. Para Antônio Guimarães, bastaram quatro meses longe da esposa e dos filhos para descobrir que a crise foi ocasionada por uma depressão passageira.
"Às vezes, é necessário se chegar a extremos para que o desejo desperte e que mudemos o rumo de uma decisão que já tenhamos tomado", acrescenta Armando.
Segundo o pesquisador, no início da relação as pessoas são tomadas por forças químico-afetivas que as levam a uma excitação temporária. Passado este período a personalidade de cada um se apresenta, assim como problemas pessoais antigos ou recentes, temperamento, e as dificuldades tendem a se avolumar. Além disso, surgem ainda problemas financeiros, diferenças de estilo de vida e objetivos ou até mesmo filhos e crises sexuais.
Os entraves podem desencadear o que Armando descreve como Síndrome do Comportamento de Hospedagem, quando, com a rotina da convivência, as pessoas agem, inconscientemente, como um hóspede dentro de sua própria casa. Cumprem com papéis e tratam as questões, antes parcimoniosas, de forma independente. Assim, as discussões e conflitos avolumam-se no processo bola-de-neve.
Para ele, nesses casos caberia uma busca por ajuda especializada. "Contudo, muitas pessoas desconhecem ou são resistentes à idéia de terapia. Acabam por desperdiçar uma melhora em suas vidas pessoais e em conjunto", explica Armando.
A negação de problemas pessoais somada à frustração pelo fracasso da relação e à incriminação da culpa no outro torna a situação mais difícil. Isso faz com que a causa real da separação permaneça oculta. É nesse momento que o psicólogo acredita que é essencial entrar a psicoterapia, auxiliando na compreensão de si mesmo e dos problemas que não enxergamos.
Outro recurso para reduzir os conflitos do divórcio que muitas vezes acaba reunindo novamente os casais é a chamada "mediação". O trabalho conciliatório é, normalmente, indicado por advogados e realizado por assistentes sociais, advogados especializados ou psicólogos em situações em que não se consegue promover o acordo entre as partes no divórcio.
O mediador ajuda restabelecer a comunicação produtiva e ajuda as pessoas a chegar a um acordo favorável para ambas. A psicanalista Eliana Riberti Nazareth, vice-presidente do Centro de Referência em Mediação e Arbitragem, lembra do caso de um casal que após seis encontros de mediação e depois de ter alcançado o restabelecimento do diálogo amigável na relação, foi encaminhado para uma terapia. Com as orientações da mediação e da terapia, o casal optou por manter o casamento.
A psicanalista explica que, na maioria das desistências de divórcios, o casal não desejava a separação realmente, mas sim se livrar de uma situação de incômodo. "Ou cortar um ciclo negativo. As pessoas, muitas vezes, imaginam que o divórcio é saída milagrosa para problemas que, algumas vezes, não são nem mesmo gerados pela relação", diz.
Para evitar desgaste emocional e iniciar ações judiciais desnecessárias, Eliana aconselha: "O casal que se ama só deve se separar quando cada um sentir dentro de si próprio que fez de tudo para salvar a relação. Deve-se fazer uso de todas as técnicas para resolver os possíveis impasses, pois a separação é uma medida muito séria que deixa seqüelas irreversíveis", conclui.