Quem tem amigos, tem tudo". Há alguns anos, usei esta frase para escrever sobre CRM (Customer Relationship Management) que, então, aparecia como a grande promessa do mercado tecnológico. Repito esse sábio dito popular para tratar de um tema recente: o crescimento da importância- para o profissional que busca desenvolver uma carreira de sucesso- de sua imagem e do grau de relacionamento que desfruta no meio em que atua: colegas de profissão ou pessoas que compartilham as mesmas visões, valores e objetivos.
Esse entendimento de que estar bem em seu meio pode ajudar a crescer profissionalmente aparece em contrapartida a uma menor identificação do profissional com a empresa em que trabalha. Penso que as histórias traumáticas de enxugamento das organizações, o estresse na operacionalização de fusões e aquisições, e os bônus que levam todos a pensar no curtíssimo prazo, geraram no profissional a percepção de que sua empresa não é tão leal para com ele quanto era sua expectativa.
Todos nós desenvolvemos, nos últimos anos, um senso crítico mais aguçado em relação às organizações em que trabalhamos, enxergamos mais claramente os defeitos e as limitações. Percebemos como somos vulneráveis a mudanças de humor dos mercados (ou dos nossos chefes), e como nosso salário (ou nosso "custo" como muitos executivos gostam de ressaltar) pode ser usado como moeda de troca para preservar gestores com competência questionável para "tocar" o negócio.
Fazer uma ótima carreira profissional não depende mais, somente, de estar numa "boa" empresa: depende de acumular qualificações, experiências e também de ter uma boa imagem -uma reputação- nas áreas relacionadas ao seu desenvolvimento profissional.
Aquele profissional que dedica com afinco todas as suas preciosas horas aos processos da empresa está assumindo grandes riscos. Uma parte do tempo precisa ser usada para estudar e atualizar-se, e algum tempo deve ser investido em relacionamentos fora da empresa (sabe aquele congresso anual que você nunca vai? É bom estar lá da próxima vez). Até porque esses relacionamentos podem ajudar a trazer oportunidades e negócios para a sua organização. Não é preciso ser tão egoísta imaginando que "lá fora, só vou cuidar da minha vida".
O mercado está caminhando para um aumento de parcerias entre empresas, e maior utilização de terceiros nos modelos de negócios. Ter boa capacidade de comunicação ou simplesmente conhecer as pessoas certas pode alavancar a carreira em um quadro como esse. Pense em quantos novos cargos e inéditas e inusitadas descrições de funções foram criados nos últimos anos: relacionamento, inovação, eficiência operacional, excelência, integração são palavras-chave que nomeiam ou descrevem posições importantes que estão sendo ocupadas por pessoas que perceberam essa transformação dos negócios.
A outra questão mencionada antes - compartilhar idéias com pessoas que adotam os mesmos valores e visões -- também merece atenção e investimento de tempo. Aqui pode haver um misto de interesses profissionais e pessoais, assuntos técnicos ou outros temas de interesse, tudo isso faz parte da formação do indivíduo. Funções executivas requerem, cada vez mais, uma visão holística e uma vivência que permitam "navegar" por diferentes temas e ambientes- discutir para onde vai a profissão em que se atua, considerar a sofisticação crescente das questões éticas e sociais, lidar com diferenças culturais, perceber a necessidade de dar visibilidade às decisões e às suas consequências, saber tratar as pessoas menos como "recursos" e mais como "humanos".
Podemos dizer que sempre fomos os principais responsáveis pelas nossas próprias carreiras; mas agora, em uma época de alta volatilidade e de grandes pressões por resultados, essa missão tornou-se crítica; dela depende a nossa sobrevivência e empregabilidade.
Sergio Lozinsky é líder de estratégia corporativa da IBM Global Business Services