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Revista O Empresário / Número 98 · Junho de 2006



Até o inicio de maio, isto é, pouco tempo atrás, a grande maioria dos profissionais de mercado demonstrava acentuado otimismo com o mercado acionário brasileiro para este ano. Constantemente, os analistas alteravam para cima suas projeções para o Índice Bovespa para o final do ano, conforme este evoluía positivamente. Estas projeções chegaram a alcançar o máximo de 45 mil a 50 mil pontos para o índice em dezembro deste ano.

Agora, após as recentes fortes quedas, devido aos temores de maior inflação americana, com conseqüente alta dos juros americanos e possível desaquecimento econômico global, como ficam esses profissionais perante os investidores? Como justificar esse erro de previsão? Os analistas poderiam argumentar que o cenário desenhado era diferente da realidade atual. Isto significa que não conseguiram prever a ocorrência de fatos novos e reversões de tendências. Embora a preocupação com os juros americanos não fosse um assunto novo para o mercado.

Após quase quatro anos de altas consecutivas da maioria das bolsas mundiais, tendo o Índice Bovespa atingido de 31 de dezembro de 2002 a 9 de maio de 2006 alta nominal acumulada de 272,6%, não seria razoável esperar uma correção dos preços em algum momento próximo? Não seria recomendável reduzir a exposição em renda variável em vez de aumentá-la ao longo desse processo de alta? Com a palavra os profissionais de mercado.

Nesse espaço, meu intuito é tentar orientar o investidor em meio a essas informações que acabam conduzindo-o a "comprar na alta e vender na baixa", quando o óbvio e correto seria fazer exatamente o oposto. Não estou defendendo que simplesmente sejam ignoradas essas projeções. Recomendo, apenas, que a leitura dessas análises seja feita com cautela. Especialmente quando as previsões se referem à bolsa de valores, por sua inerente volatilidade que, não por acaso, a situa entre os investimentos de renda variável e não fixa.

Como todo investidor sabe ou escutou, a máxima do mercado é: "comprar na baixa e vender na alta". Todos concordam que é o conselho mais óbvio e lógico que existe, mas extremamente difícil de ser seguido, em face da influência da ganância e do medo, que impedem o investidor de agir corretamente, empurrando-o a realizar exatamente o contrário, ou seja, comprar na alta e vender na baixa.

A ganância surge quando os mercados estão em alta forte. Surge também o sentimento de que a valorização irá persistir indefinidamente, impedindo que o investidor venda e, pior ainda, fazendo-o comprar nesses períodos. Situação oposta, o medo surge nos momentos de forte baixa, quando o investidor acredita que o mercado continuará a cair indefinidamente e que será possível sempre comprar a preços mais convidativos do que os atuais ou, mais grave, forçando-o a vender nessas ocasiões com receio de que as perdas se elevem. É importante salientar que não somente os investidores são vitimas dessas emoções. A grande maioria dos profissionais de mercado também sofre essas conseqüências.

Quem nunca ouviu falar que quando um motorista de táxi faz comentários sobre as altas das bolsas é o momento de sair do mercado? Conheço inúmeros investidores que entraram e saíram em momentos equivocados em função da ganância e do medo, amargaram grandes perdas e hoje, traumatizados, nem querem ouvir falar em ações. E pior ainda: consideram o mercado acionário um cassino, quando isto não é a realidade dos fatos.

O investidor deve ter em mente a perspectiva histórica da evolução, em termos reais, dos preços das ações. A evolução média das principais bolsas mundiais varia na faixa de 7 a 12% ao ano, sendo mais elevada para países emergentes e menores para países desenvolvidos. Esses números refletem o desempenho médio real das empresas em suas atividades. Sempre haverá momentos de extremo otimismo e pessimismo que criarão distorções nos preços justos das ações, mas que serão corrigidos ciclicamente para sua média histórica.

Desse modo, o melhor a fazer é ter visão de longo prazo, procurando comprar e vender gradativamente ao longo das baixas e altas, evitando "surfar" com visão de curto prazo. O que estamos vivenciando neste momento é um fenômeno cíclico recorrente dos mercados acionários que devem ser interpretados como oportunidades muito interessantes para os investidores. Portanto, se você quiser ficar do lado dos poucos vencedores - e não do lado dos muitos perdedores - tenha uma recomendação sempre em mente: não se deixe levar pelo otimismo e pessimismo excessivos e controle suas emoções.

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