Revista O Empresário / Número 157 · Agosto de 2011
Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de Porto, dizer à minha neta: Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas para lhe contar. E assim, dizer, apontando o indicador para o alto: O nome disso não é conselho, isso se chama colaboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, me levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis, a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte. Por isso, vou colocar mais ou menos assim: é preciso coragem para ser feliz. Seja valente. Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
Satisfaça seus desejos; esse é seu direito e obrigação. Entenda que o tempo é um paciente professor que irá fazê-la crescer, mas a escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim. Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e à Austrália. Cuide bem dos seus dentes. Experimente, mude, corte os cabelos, ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro. Não corra o risco de envelhecer dizendo “ah, se eu tivesse feito...” vai que o carteiro ganhe na loteria - tudo é possível, o futuro é imprevisível.
Tenha uma vida rica de vida! Viva romances de cinema, contos de fadas e casos de novelas. Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor, e tome conta, sempre, da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam e, se você der chance, elas inventam também detalhes desnecessários. Se for se casar, faça por amor e não por segurança, carinho ou status. A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco! Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você, mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão. Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia, pinte, desenhe, escreva e, por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais. Eles a amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam e sempre farão. Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso, minha querida. Agora, é a sua vez. Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?