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Revista O Empresário / Número 105 · Fevereiro de 2007



Americanos gostam de classificar tendências de comportamento usando pedaços de palavras e siglas como hippies, yuppies, teens, emos. Loucos por um cartório, os brasileiros preferem fulanizar, para usar o verbo cunhado pelo ex-presidente sociólogo: nossos tipos têm nome próprio, como Patricinha, Mauricinho, Camilinha e Plínio. E tem novidade: Dirces.

Não se sabe quem inventou, mas a razão da escolha é fácil de entender. Dirce
(que me perdoem as que o carregam desde o batismo) é um nome passadista, que remete àquela parenta idosa e fofa, nunca às moças das últimas gerações, exatamente as que “estão “Dirces.

O que caracteriza o tipo é uma espécie de nota dissonante, o pé num certo passado, improvável numa figura absolutamente urbana. Quem dirá que, por baixo daquela mulher com visual moderno, roupas alternativas, tatuagens e piercings à mostra, vive uma tia-avó modelo original, daquelas que colecionam cadernos de receita, fazem compotas e nunca deixam móvel sem toalhinha?

DIRCE QUE É DIRCE...
* Não combina forma com função: sob o visual up-to-date, de muita tatuagem e piercings, mora uma alma retrô.

* Adora vestidos e calças de alfaiataria de estilistas emergentes ou brechós, relógio Cassio (com calculadora) e tênis iate

* Nunca se chama Dirce. Neide ou qualquer nome de tia-avó: adota um apelido como Didi, Fabi, Drica ou Cuca seguido pelo sobrenome.

* Trabalha em profissões modernas, como designer, figurinista, artista plástica, atriz, produtora, estilista.

* Sabe de cor receita de bolo de fubá ou uma carne assada que desmancha como a da mãe

* Tem livro de receitas, onde registra a “procedência” do quitute: “gelatina colorida da Nena”, por exemplo

* Prefere ficar em casa batendo um bolinho ou fazendo molho de tomate caseiro a encarar uma balada com fila e fumaça

*Ama toalhinha de crochê, ainda mais fazendo par com um vaso de Philip Stark

* Acha que filtro de água feito de barro é item fundamental na cozinha

* Odeia congelados; adota uma menu repleto de fibras e gosta de produtos sem agrotóxicos mas, se a receita da “tia Dulce” pedir, usam gordura hidrogenada sem culpa.
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