Revista O Empresário / Número 145 · Agosto de 2010
Segundo o endocrinologista Saulo Cavalcanti, a maioria das pessoas não sabe que o diabetes tem implicações diferentes no idoso, como alteração na personalidade, atenção, concentração e linguagem. Além disso, as artérias dos diabéticos são mais envelhecidas que sua idade real, o que no idoso passa a ser ainda mais preocupante, já que podem ficar de 10% a 15% mais velhas, facilitando a ocorrência de infarto do miocárdio e derrame cerebral. A chance de um infarto silencioso também é mais comum nos diabéticos e, mais ainda, nos idosos com a doença. A possibilidade de hipoglicemias (queda da glicose) também aumenta e pode levar à confusão mental e à agressividade.
Na opinião do especialista, o idoso não pode, portanto, ser tratado como adulto. “Quanto mais velho for, de mais carinho e atenção o paciente precisa. Além de problemas econômicos e sociais, por muitas vezes depender de aposentadorias, morar com parentes e não receber a atenção de todos os filhos, os idosos diabéticos sofrem com doenças concomitantes e alterações cognitivas. A impaciência e a falta de respeito no convívio com o idoso levam à depressão e, muitas vezes, ele vai para um psiquiatra quando precisava, na verdade, de um maior controle do diabetes e um trabalho com a família”, explica.
A causa desses distúrbios comportamentais está relacionada à menor oxigenação do cérebro, já que o entupimento das artérias cerebrais é mais comum no idoso. Até a medicação tem ações diferentes nesse paciente, como efeitos colaterais e contraindicações que devem ser acompanhadas de perto pelo médico. Muitas das queixas dos idosos, como urinar com frequência, sede, catarata, micoses, emagrecimento, alterações de memória, falta de concentração e modificações do humor, muitas vezes são desvalorizadas pela família, que acredita que os sintomas façam parte do próprio envelhecimento. O descuido, entretanto, pode levar a complicações crônicas.
Segundo a endocrinologista Adriana Bosco, coordenadora do ambulatório de diabetes tipo 2 da Santa Casa, o diagnóstico em idosos também tem diferenças, já que o diabetes vai ficando mais silencioso com a idade. “Os sintomas são menos aparentes. O idoso pode viver muito tempo com a glicemia alterada e só descobrir quando já tiver um problema maior. Ele fica anos e anos convivendo com o diabetes sem saber e depois, colhe os frutos da complicação”, explica. De acordo com a médica, cerca de 70% dos diagnósticos em idosos são feitos em exames de rotina, sem que ele chegue ao consultório queixando-se de nada.