O nova-iorquino Marc Prensky, de 67 anos, é considerado um dos maiores especialistas na aplicação de tecnologias nas áreas da educação. Ele é formado em Matemática e Francês com especialização pelas universidades de Yale e pela escola de Negócios de Harvard. Com passagem por Wall Street, é também criador do site Spree Games e presidente da Game2 Train, que utiliza jogos no processo de aprendizagem.
Confira a sua entrevista.
* Como o avanço da tecnologia agrava as dificuldades da educação hoje no mundo?
A educação formal que oferecemos não é muito boa, independentemente do lugar ou da rede de ensino. Isso porque vivemos num momento onde o tempo é cada vez mais acelerado, cheio de incertezas e complexidades. A educação que nós oferecemos às nossas crianças ainda é a mesma que era oferecida no século passado.
* Como adaptar a escola ao novo contexto tecnológico?
A forma como os professores ensinam é a mesma. Eles ficam em pé na frente dos alunos e apenas falam, enquanto os estudantes apenas escutam, quando escutam, e fazem anotações. São métodos velhos. O melhor método e único, é o da parceria. E há várias formas de se alcançar bons resultados quando professores e alunos trabalham como parceiros. Estudantes podem fazer suas atividades e o professor deveria estar presente como um guia, uma espécie de técnico esportivo. Essa mudança conceitual é uma forma pedagógica que está mais relacionada a esse novo contexto.
* Como se daria efetivamente essa parceria?
Professor e alunos devem conversar. Não sobre notas, mas sobre quem eles são e como eles fazem as coisas que fazem. Isso é a principal coisa que falta. Eles acham que são dois grupos diferentes. Eles devem se enxergar como parceiros. Como pessoas que estão trabalhando juntas buscando resolver problemas comuns. Professores precisam conhecer as paixões dos estudantes, a maneira como eles pensam e como eles aprendem. E estudantes precisam saber mais sobre os seus professores. O que eles estão tentando fazer, quais são seus objetivos. Esse relacionamento pode continuar formal, mas de uma maneira menos distantes.
* Onde entra a tecnologia?
Parte dessa adaptação deve ser feita com a tecnologia, porque as crianças vivem na era da tecnologia, mas isso é apenas uma parte da questão. Nós devemos deixar os estudantes fazerem coisas úteis, devem pesquisar assuntos que serão discutidos em sala, utilizando cada vez mais a tecnologia. A função do professor seria responder às dúvidas.
A outra parte tem a ver com a maneira como ensinamos. O que ensinamos para as crianças é Matemática, Línguas, Ciência e Estudos Sociais e isso não é o que deveríamos ensinar pensando no futuro.
* Devemos reformular o currículo então?
Sim, nós temos que mesclar as disciplinas, mas o que eu proponho vai além disso. Nós deveríamos ensinar numa lógica de aprofundamento de habilidades de análise, pensamento, discussão, sociabilidade e relacionamento humano.
* Como deve ser a postura do professor?
Os professores devem ser como técnicos esportivos. Eles devem ser bons em fazer com que os jogadores sejam bons. O professor deve trabalhar como se fosse um guia que incentiva o aluno a ser mais autodidata.
* Os professores devem ser mais tecnológicos?
Os professores não deveriam nem se aproximar de tecnologia, porque a função do professor é observar o que os estudantes fazem e ter certeza de que o que eles estão fazendo é de boa qualidade. Eles devem saber apenas as possibilidades que a tecnologia pode oferecer.
* Os professores não precisariam nem se familiarizar com o assunto?
Eles devem saber que é possível que os estudantes possam se comunicar bem por um vídeo e, a partir daí avaliar a qualidade do material produzido. Ou seja, os professores não precisam ficar preocupados com a tecnologia. Agora, existe algo que é muito estúpido. Os professores dizem: agora nós todos iremos criar uma apresentação em power point juntos. O que os professores deveriam dizer é que todos precisariam apresentar alguma coisa sobre o conteúdo específico, usando a ferramenta que eles quiserem.