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Revista O Empresário / Número 109 · Junho de 2007



OBanco Central divulgou recentemente um estudo que mostra como é caro assinar um cheque. Cada folha do seu talão custa, em média, R$ 3,11 para os bancos, estima o BC. É um valor extremamente alto se comparado ao custo dos pagamentos feitos por meios eletrônicos. Os meios eletrônicos custam a metade: R$ 1,46. E advinha para quem os bancos repassam os custos? Por isso é estranho que o brasileiro ainda utilize cheque em suas compras. O uso desse meio de pagamento vem caindo, mas ainda há quem resista.


Numa reportagem publicada em junho no Valor, o jornalista Altamiro Silva Junior mostrou pesquisas que dizem que a utilização das tradicionais folhas de papel tem caído 7% ao ano. Em 2006, o recuo foi ainda maior e aumentou para 11%. Os meios eletrônicos (incluindo também a TED e o DOC, além dos cartões e boletos) respondem hoje por mais de 80% das operações.


Pesquisa da Visa mostrou que em alguns locais, como nos postos de gasolina, o uso do cheque já é praticamente zero, segundo levantamento feito em cinco capitais (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Curitiba). Por que os talões de cheques ainda resistem é a grande pergunta. Na mesma pesquisa, as pessoas entrevistadas pela Visa afirmaram que a maior vantagem de continuarem usando o papel é o cheque pré-datado.


A resistência do brasileiro em abrir mão do talão de cheque é, portanto, sua utilização como instrumento de crédito. Consumidores e lojistas gostam muito do cheque pré-datado. Isso porque é um instrumento fácil e barato de financiar as compras. Ocorre que tamanha simplicidade pode lhe custar caro, pois tem potencial para se revelar uma armadilha financeira. Não apenas pelo custo excessivo da operação, mas também pelo risco alto de comprometimento de sua estabilidade financeira.


Mas há uma razão ainda maior para você aposentar o talão de cheque: o bem-estar de sua família. Os consultores financeiros pessoais concordam que problemas financeiros são fatais para casamentos. É mais fácil um casamento sobreviver a uma crise conjugal do que a uma crise financeira.


Há muitos caminhos para se chegar a uma crise financeira, perda de emprego e aumento de custos são alguns exemplos. Mas poucos são tão eficientes quanto à utilização desenfreada de cheques pré-datados. O cartão de crédito é um perigo, não resta a menor dúvida. Porém, a devastação causada pelo cheque pré-datado é ainda pior. Isso porque o cartão de crédito tem limite. No entanto, você armado com seu talão de cheque não obtém qualquer sinalização do momento em que estão entrando numa zona de perigo.


Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo, conhece como poucos o mercado varejista. Segundo ele, a incidência de cheques sem fundo é muito maior entre os cheques pré-datados do que nos pagamentos com cheque à vista. É fundamental ser extremamente organizado para não perder o controle com cheques pré-datados, diz ele.


O cheque pré-datado é uma invenção brasileira e tem suas origens nas cadernetas dos pequenos armazéns, onde o freguês anotava suas compras durante o mês para fazer o pagamento quando recebesse o salário. O salto para o cheque pré-datado é uma evolução neste contexto.


"É um instrumento simples, baseado na confiança", diz Solimeo. "Confiança de que o lojista não vai depositar e de que o cliente terá fundos para pagar o cheque na data combinada", acrescenta. É um instrumento que ainda deve perdurar por um bom tempo, na avaliação de Solimeo. Segundo ele, os lojistas resistem a adotar os cartões porque a taxa cobrada pela operadora é muito alta. "Assim, o risco de receber um cheque sem fundo acaba sendo menor do que a taxa cobrada pelo cartão eletrônico", diz.


Para Solimeo, o grande desafio do consumidor na utilização desse instrumento é o controle. Ele diz que é muito comum o consumidor anotar no canhoto as datas futuras de pagamento dos cheques pré-datados. Mas, quando o talão acaba e ele pega o outro, o consumidor simplesmente esquece dos cheques pré-datados que passou. A maior parte dos cheques sem fundos, neste caso, é função de puro descontrole, segundo Solimeo.

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