Revista O Empresário / Número 138 · Janeiro de 2010
A americana Maryanne Wolf é uma das maiores especialistas na área da neurociência que estuda os efeitos da leitura no cérebro, tema sobre o qual já escreveu mais de uma dezena de livros. Hoje, ela se dedica a entender, cientificamente, como as pessoas assimilam conhecimento por meio de novas tecnologias, como o e-book.
O que já se sabe sobre a leitura na rede?
Ela é mais superficial, segundo revelam as imagens dos neurônios, quando alguém está diante do computador. As fotos mostram, com nitidez, que o circuito formado entre as áreas do cérebro envolvidas na leitura não chega, nesse caso, àquela região em que ela seria processada de maneira mais analítica.
Por que isso acontece?
A internet provê um excesso de estímulos que acaba atrapalhando. Enquanto você lê Shakespeare, não param de aparecer na tela pop-ups e e-mails. É naturalmente difícil manter a concentração e fazer uma leitura de padrão mais elevado, que abra espaço para um alto grau de processamento de ideias. A habilidade para ler deve ser treinada.
Como, exatamente?
Simples: lendo todo dia. Não existe no cérebro nada como uma estrutura previamente concebida para a leitura – é preciso construí-la e aprimorá-la. Funciona como no esporte: quanto mais se pratica, melhor é o resultado.
Como a neurociência explica a formação de tal estrutura no cérebro?
A repetição da leitura faz o cérebro desenvolver um circuito que passa a conectar, em questão de milésimos de segundo, três áreas distintas: a da visão, a da linguagem e uma que se encarrega de dar significado às palavras. Esse mesmo roteiro pode levar até 100 vezes mais tempo, caso a pessoa não tenha o hábito de ler. Seu cérebro fica tomado com a tarefa básica de decodificar o texto – e não consegue ir muito além disso.