Revista O Empresário / Número 138 · Janeiro de 2010
Aloísio Araújo, economista, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Por que o senhor considera a educação infantil tão importante?
Aloísio Araújo: Do ponto de vista da neurociência, porque o cérebro se forma muito cedo. Então, se a criança não recebe certos estímulos nessa fase em que se estabelecem certas conexões neuronais, dificilmente vai recuperar isso depois. Através de medições e imagens mais modernas, fica claro que é difícil que essa criança atinja o mesmo nível de uma outra que foi submetida aos estímulos adequados.
Que tipo de estímulos?
Araújo: A criança que vem de um lar em que os pais são educados, leem em voz alta, dão estímulos lógicos e usam um vocabulário amplo, está muito mais preparada quando chega à escola do que uma criança que tem os pais analfabetos, poucos recursos em casa, não tem jogos, brinquedos. Isso é medido num trabalho do (James) Heckman e do Flávio Cunha: com 1 ano de idade, as diferenças são muito pequenas. Aos 4 anos, muito grandes dependendo do nível de renda.
A escola consegue reverter essa diferença mais tarde?
Araújo: Depois dos 4 anos, o sistema educacional não recupera mais. As diferenças que existem por educação da mãe ou faixa de renda não são mais reversíveis.