Você já ouviu falar em benzoato de sódio? E em fosfato tricálcico? Nunca? E no citrato de sódio? Também não? Pois saiba que, mesmo que você não se lembre dessas palavras esquisitas, elas estão em muitos alimentos que, provavelmente, fazem parte das suas refeições diárias. É que estamos falando de dezenas de ingredientes presentes nos alimentos industrializados e nos rótulos das embalagens, engrossando a sopa de letrinhas que, quando não passam despercebidas, podem até assustá-lo.
O citrato de sódio, por exemplo, está presente no leite em caixinha, como estabilizante. Por sua vez, o fosfato tricálcico é usado em refrescos e sopas em pó, para evitar a presença de umidade. Já o benzoato de sódio serve como conservante em margarinas, molhos e sucos.
A presença desses ingredientes é motivo de muitas controvérsias e dúvidas, que colocam o consumidor, pesquisas científicas e estratégias de marketing num intricado dilema onde a sua saúde é que está em jogo.
A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS defende esses aditivos, utilizados, em geral, para aumentar a durabilidade do produto na prateleira, melhorar a aparência (como sabor, cor e odor), evitar reações provocadas pelo meio ambiente e por bactérias (conservandoos por mais tempo) ou facilitar algumas etapas da produção industrial. Ou seja, torná-lo mais atrativo e prático para o consumidor.
Por suposto, isso é permitido pela legislação brasileira, que admite a Organizaadição de 12 categorias de aditivos: acidulantes, antiespumantes, antioxidantes, antiumectantes, aromatizantes, conser vantes, corantes, adoçantes artificiais e naturais, espessantes, estabilizantes e umectantes. Uma breve olhada na geladeira e você vai perceber que eles estão lá.
Entre os mais usados destacam-se os corantes, que podem ser naturais, como o cúrcuma, ou artificiais, como tartrazina (aparece nos rótulos como a sigla E102), sendo utilizados em refrigerantes e doces para dar a cor dos sabores que imitam, por exemplo.
Merecem ser mencionados ainda: os espessantes, que também surgem muitas vezes em forma de siglas (como o INS 466) e são empregados para engrossar caldos e tornar mais viscosos produtos como geléias e cremes; e os conservantes, como o benzoato de sódio e o ácido sórbico, cuja função é evitar a ação de microrganismos que podem deteriorar os alimentos, fazendo com que percam as suas características ou até mesmo se estraguem.
Nutricionistas e pesquisadores da saúde apontam como danos causados por esses aditivos palavras ainda mais amedrontadoras: hipoglicemia, diarréia, diabetes, candidíase, alergias e até mesmo distúrbios no comportamento. Os conservantes, por exemplo, são tidos por muitos como os grande vilões da alimentação industrial, por terem ação bactericida e serem freqüentemente associados a doenças como o câncer.
MAS CALMA. Não podemos julgálos apenas pelo palavrão que parecem ser, e sim pelo que servem e o que realmente provocam. Ou podemos cair na armadilha de condenar o cloreto de sódio, que nada mais é que o nosso velho conhecido sal de cozinha. Aliás, esse é um bom exemplo para começarmos a refletir, pois ele toca num ponto importante e freqüente na discussão sobre produtos industrializados: a quantidade.
De acordo com Ronnie Pizzi, diretor da Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos (Abea), reside na relação qualidade/quantidade uma das primeiras questões que precisam ser levadas em consideração quando se fala de aditivos alimentares. "Há órgãos internacionais, como o norteamericano Food and Drug Administration (FDA) e a própria Organizaadição Mundial da Saúde (OMS), que realizam estudos e pesquisas com os aditivos alimentares com a finalidade de acelerar o avanço da ciência de alimentos e avaliar quais são os níveis de sua utilização seguros à saúde", explica o engenheiro. "No Brasil, existe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada ao Ministério da Saúde, que é o órgão responsável por regulamentar e fiscalizar a utilização desses aditivos."
Ele também menciona o mito do "alimento com química", e complementa: "Tudo é química; o sal de cozinha é o NaCl, bastante utilizado em nossa alimentação, mas que pode colaborar como uma das principais causas de hipertensão. Até mesmo a água, quando tomada em quantidades extremas, como 40 litros por dia, pode provocar danos à saúde."
PARA ANDRÉA GALANTE, presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), embora muitas vezes se torne necessário o consumo desses produtos, é preciso controle na hora de comprá-los e consumi-los, visto que o efeito pode ser cumulativo e danoso. "É o caso do nitrato, que, por meio de ação microbiana ou no estômago, pode se transformar em nitritos. O nitrito se une à amina (composto derivado da amônia presente no organismo) e forma as nitrosaminas, que são potencialmente cancerígenas", diz a nutricionista.
Ingerir ALIMENTOS como esses é muitas vezes necessário, mas a pessoa precisa ter controle quando for comprá-los e consumi-los, uma vez que o efeito pode ser cumulativo e prejudicial à saúde
Andréa explica que os nitratos são encontrados em conservantes de alimentos como os embutidos e utilizados também para dar a cor vermelha a carnes. Mortadelas e salsichas podem conter nitrato. Ela cita ainda o exemplo da gordura vegetal hidrogenada, conhecida hoje em dia como gordura trans e usada para dar mais consistência aos alimentos industrializados, como biscoitos recheados e sorvetes, além de prolongar a sua vida útil. "Em contrapartida, aumenta o risco de surgimento de doenças como hiper tensão ar terial", completa a nutricionista.
Em meio a esse jogo de verdades, é realmente muito difícil chegar a uma conclusão. Mesmo as pesquisas científicas são capazes de nos colocar em dúvida sobre o que é danoso e o que é saudável nessa nossa vida apressada, cheia de contradições. Além disso, basta lembrar que mesmo a ciência não é estática e está sempre em evolução - no caso dos alimentos, um exemplo "clássico" é o do azeite, que já foi tido como grande vilão, mas hoje é considerado um sinônimo de saúde.
Outro caso, mais atual, é o da sacarina: antes crucificada pelos danos que lhe eram atribuídos, ela vem sendo absolvida por novos estudos que revelam que esse tipo de adoçante artificial, quando adicionado à dieta em baixas concentrações, não é um fator de risco relevante para o desenvolvimento de cânce res. Os ovos, por sua vez, que foram vilões por muito tempo, também aparecem em novas pesquisas como alimento rico e saudável, desde que, obviamente, não estejam embebidos em óleo quente.
RONNIE PIZZI também chama a atenção para o fato de que mesmo os alimentos naturais e orgânicos podem oferecer riscos à saúde. "Sem a utilização de cuidados e boas práticas na sua produção e armazenamento, até o consumo final, eles podem oferecer algum tipo de contaminação microbiológica e conseqüente intoxicação alimentar", afirma.
Para ele, é importante não polarizar a discussão entre comida industrial e comidas "caseiras", pois hoje essas duas áreas do conhecimento trabalham juntas e não como opostas. "A engenharia de alimentos engloba uma visão nutricional, enquanto o trabalho dos nutricionistas também está presente na indústria de alimentos", completa.
Quando o assunto é alimento industrial, os dois profissionais são unânimes: o ideal é controlar seu consumo, diversificando ao máximo a dieta com produtos naturais. "A melhor recomendação é a de equilibrar a alimentação, isto é, evitar excessos", afirma Andréa Galante. "A ingestão constante e em altas quantidades de alimentos industrializados pode facilitar ou predispor à ocorrência de distúrbios na saúde", completa.
Sendo assim, daqui em diante, lave bem os alimentos in natura, esteja atento aos ingredientes presentes nos rótulos dos produtos que consome e procure se informar, fazendo da leitura - hábito extremamente saudável para a mente - um aliado da saúde de seu corpo.
Vocabulário dos ADITIVOS
C - São corantes naturais (Cl), como a clorofila e o urucum, ou artificiais (C2), como o vermelho 40 e o azul brilhante.
F - Indica aromatizantes ou flavorizantes, que têm o papel de realçar, respectivamente, o odor e o sabor dos alimentos. Há naturais e artificiais.
EP - Símbolo de espessante, cuja função é dar consistência ao alimento. Geralmente, é de origem vegetal.
U - É o umectante, que impede o ressecamento do alimento.
AU - São os antiumectantes, que evitam a absorção de umidade.
ET - Indica a presença de estabilizantes para impedir que os diferentes ingredientes se separem. Os mais comuns são óleos naturais.
H - Sigla dos acidulantes, responsáveis por acentuar o sabor ácido do alimento industrializado. Alguns estão naturalmente presentes nas frutas.
D - Ou edulcorantes, usados nos produtos dietéticos em substituição ao açúcar.
P - Significa a presença de conservantes.
A - São os antioxidantes, que evitam a rancificação de produtos gordurosos.