Revista O Empresário / Número 101 · Setembro de 2006
Sem dúvida, o comportamento humano está se modificando devido ao avanço tecnológico, mas essa mudança não parece ser tão benéfica em relação à internet. Em 1999, um estudo mostrou que 5,7% de 18 mil internautas pesquisados preenchiam os critérios médicos de uso compulsivo da internet.
Risco.
A marca de perigo é de mais de 30 horas por semana
Em uma outra pesquisa, feita em 2002 e publicada pelo Journal of CyberPsychology & Behaviour, sobre acesso à internet no ambiente de trabalho descobriu que 60% das empresas pesquisadas restringiu o acesso de seus funcionários à rede devido ao uso inapropriado. E 30% das empresas proibiram o acesso à internet.
Agora, pesquisadores da Universidade de Stanford identificaram que a cada oito americanos entrevistados, pelo menos um apresenta fortes indícios de estar viciado em internet. O estudo publicado no International Journal of Neuropsychiatric Medicine de outubro, entrevistou por telefone mais de 2.500 adultos. Quase 70% deles usavam regularmente a internet, índice compatível com a média americana, porém, muitos o faziam de maneira bastante preocupante, no entender do pesquisador-chefe, dr. Elias Aboujaoude.
A marca compulsividade são 30 horas por semana navegando em sites não essenciais, explica Aboujaoude, chefe do centro de controle de doença compulsiva de Stanford. Ele avisa que os viciados em internet é número crescente de pessoas que a têm utilizado não para sexo ou jogo, mas para simplesmente checar e-mails, navegar, escrever blogs e ações comuns, porém, repetidas de maneira compulsiva.
A descrição de compulsão é a sensação de necessidade de fazer algo urgente, que aparece de maneira intrusiva, incontrolável e repetitiva e pode até ser prazeroso no momento, mas posteriormente leva a problemas em nível pessoal ou profissional. É a descrição do vício do jogo, da droga e da internet.
Dados mais interessantes encontrados na pesquisa. Entre os internautas pesquisados:
13,7% não consegue ficar sem acessar a internet por vários dias.
12,4% comumente fica on-line por mais tempo que o planejado.
12,3% teve de reduzir o uso de internet para evitar problemas.
8,7% tenta esconder de familiares, amigos ou patrões que estava usando a internet por motivos sem importância.
8,2% utiliza a internet para esquecer a realidade ou para melhorar sintomas negativos, como tristeza, melancolia ou sofrimento.
5,9% já havia prejudicado algum relacionamento pelo uso abusivo da internet.
O uso exagerado do acesso à internet, mesmo que para visitar sites considerados apropriados, com o objetivo de fugir da realidade ou de esquecer a tristeza é o indício de maior preocupação para Aboujaoude. Segundo ele, esses são os argumentos mais comuns usados por alcoólatras para praticar o vício.
Um outro fato relevante ocorreu na quarta-feira 11, quando houve a primeira condenação na história de um ato de agressão física premeditada, motivada pela internet. Um inglês de 47 anos foi condenado porque, em dezembro de 2005, viajou 150 quilômetros para atacar com uma picareta sua vítima, um outro internauta com quem jamais havia tido contato até ter trocado insultos e ameaças em uma sala de chat.
Como todo meio de comunicação, a internet precisa de regras de uso e de observância constante quanto ao seu conteúdo e a maneira livre de promover a interação entre as pessoas. A falta de legislação internacional e de total ausência do conceito de ética na rede poderá em pouco tempo transformar um ato de liberdade em ações de vício e libertinagem.