Revista O Empresário / Número 101 · Setembro de 2006
Se você dirige sempre em alta velocidade, faz questão de ser o primeiro da fila, costuma interromper a fala dos outros, pois não tem paciência para ouvir o que dizem, incita as pessoas a se apressarem e considera “não fazer nada” um desperdício de tempo, provavelmente está entre os 30% da população brasileira economicamente ativa que sofre da doença da pressa. Trata-se de mais uma síndrome da modernidade, encarada pelos especialistas como reflexo de um estado crônico de urgência que se apossou das pessoas de forma generalizada – embora até varie o grau de intensidade. É imperativo fazer o máximo possível, no mínimo de tempo. Correr, correr, correr.
Segundo a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do International Stress Management (Isma) no Brasil, o estudo que estimou a população de apressados foi realizado com 1 mil brasileiros, homens e mulheres, com idade entre 25 e 55 anos. Além de doenças físicas, os adeptos do corre-corre desenvolvem problemas emocionais, como angústia, e comportamentais, como alcoolismo. “São pessoas que se tornam agressivas, se o carro começa a andar mais devagar, e que tendem a transformar a bebida em amortecedor da pressão cotidiana”, diz.
Para piorar a situação, observou-se que outros 60% dos entrevistados sofrem sintomas do excesso de tecnologia – o chamado tecnoestresse – que cria forte relação de dependência entre pessoas e aparelhos. São os viciados em notebook e celular, por exemplo. São pessoas que, em função da velocidade dos avanços tecnológicos, se sobrecarregam de informação, sentem obrigação de estar conectadas o tempo todo e não tiram o pé do acelerador, sempre em busca de novidades.
Muitos querem parar, mas não conseguem encontrar o caminho de volta. Na cultura da velocidade, as pessoas esbarram em resistências, quando decidem mudar. “Mais complicados são os casos de pessoas que têm a doença da pressa, mas não precisam, efetivamente, de correr. Nem mesmo nos momentos livres conseguem diminuir o ritmo”, lamenta a especialista.