Revista O Empresário / Número 163 · Fevereiro de 2012
Sim, as pessoas nascem com propensão para a fraude. Isso, porque engano, ilusão e quebra de confiança são ferramentas básicas do golpista e também características inerentes ao ser humano. A explicação é de Alexander Stein, psicanalista e consultor da Boswell Group, agência contra fraudes, em Nova York.
Como funciona a psicologia da fraude?
A fraude é um roubo feito por meio do engano, da esperteza, da quebra de confiança. O DNA psicológico de quem frauda é fantasticamente complexo.
Um dos principais pontos a se considerar é que traição e engano são as ferramentas do fraudador, e ele não poderia usar essas armas tão magistralmente, se não as conhecesse muito bem. O fraudador é governado pela crença central de que tudo o que é apresentado, imaginado ou prometido na direção de realizar seus anseios pessoais como constância e segurança sempre foi baseado na falsidade.
Ele é psicologicamente movido pela imprevisibilidade, contingência e falsidade. Vive num estado crônico de decepção, indignação, impotência e humilhação.
Tendo como uma das consequências de viver nesta situação um excepcional e refinado sistema de radar focado nos outros. Como cresceu se esforçando para entender o que estava acontecendo ao seu redor para poder sobreviver, ele desenvolveu certas habilidades que agora servem a seu trabalho criminoso. Em particular, ele tem uma virtude incrível: consegue mapear o que as pessoas parecem precisar e querer.
Ele é criativo, brilhante e focado em se aperfeiçoar.
As pessoas nascem com propensão à fraude?
Sim. No sentido de que todo mundo é um fraudador mas, claro, nem todos se tornam criminosos maliciosos. Quero dizer que as formas de fraude falsidade, desonestidade, dissimulação - são todas características inerentes aos humanos. São componentes importantes para a sobrevivência, adaptações para escapar ou derrotar as adversidades.
São artifícios de auto preservação. Desde o banal, como responder a um cumprimento social – quando lhe perguntam “como você vai?” e você diz “Tudo bem” mesmo quando não está tudo bem – ou esconder aspectos-chave sobre você – pensamentos, sentimentos, impulsos, desejos. Tudo a fim de evitar escrutínio, punição ou humilhação. O ponto crítico é entender como mecanismo de defesas naturais se tornam armas predatórias que levam a ações criminosas.
O que leva uma pessoa de sucesso, como um diretor de banco, a se tornar fraudador?
Psicologicamente falando, a linha que separa o empreendedorismo legítimo da atitude criminosa é tênue.
O empresário inovador e o fraudador se sobrepõem em muitos aspectos. Sucesso e realização profissional não são antídotos para criminalidade, especialmente porque o ganho financeiro raramente é o principal (ou mesmo o exclusivo) motivador da fraude de alto valor. Oportunismo e ganância,podem desempenhar seus papeis mas, em geral, profissionais de alto escalão que aproveitam de informações privilegiadas e autoridade já eram fraudadores antes de conquistarem seus cargos e não o contrário.