Revista O Empresário / Número 113 · Outubro de 2007
Desde sempre, o pai é uma figura importante no contexto da família. Antigamente, porém, sua imagem elaborada pela própria mulher era a de provedor, o que detém poder e, de fato, exerce seu domínio. Guindado a esse lugar de difícil acesso, ele não manifestava sentimentos, nem se permitia viver descontraidamente, mesmo no recesso do lar. Afinal, o período adulto começava muito cedo e de maneira confusa. O próprio casamento costumava ser, para o gênero masculino, um investimento social, diferente do objetivo da mulher, que valorizava mais a construção do ninho.
Nada de conversas mais íntimas e muito menos gestos explícitos de carinho. Claro, havia exceções, mas dificilmente com algum sinal à superfície. Boa parte dos pais até confundia respeito com temor. A própria realidade os conduzia a isso, pois era comum as mães dizerem às crianças: "esperem só seu pai chegar!", na esperança de obter obediência com guarda-chuva alheio. Assim eram os tempos...
Tensão e conflito
Criatura ausente, o pai era omisso em matéria de formação das crianças, uma tarefa delegada inteiramente à mãe. Perdia todas as oportunidades de vivenciar essa conquista que é compartilhar com os filhos incertezas, inseguranças e também vitórias. Quando muito, se fazia presente em eventos tensos e de conflito, como uma gravidez indesejada ou crises na escola. Sem nenhum laço de intimidade com as criaturas que ele mesmo gerara, sua interferência geralmente agravava o quadro.
A distância fazia com que ele tivesse uma atitude mais rígida, disciplinadora e de impor limites nem sempre razoáveis. Era o durão, a quem sempre cabia a última palavra. Nem sempre a mais justa ou sábia.
Isso vem mudando bastante, a partir da emancipação da mulher, nos últimos 20 anos. O gerúndio, neste caso, é fundamental, porque o processo ainda está em curso. Não terminou. Aos poucos, o marido deixa de ser o provedor exclusivo e divide com a companheira que também tem atribuições profissionais as tarefas de casa e o cuidado com a prole.
Gestos fundamentais
Esse novo homem usa tanto a inteligência como a sensibilidade que aos poucos desenvolve, já que às gerações passadas foi algo praticamente proibido , abdicando do triste papel autoritário. Aprende a conversar de maneira mais franca. A proximidade contribui de maneira decisiva para incentivar manifestações de afeto com maior contato físico. Ele se permite acarinhar, dar abraços e beijos nas crianças, que por sua vez também aprendem a importância desses gestos fundamentais. E passam a replicá-los com muita naturalidade.
Canal direto
Participe mais da vida dos filhos e não apenas com interesses pontuais, como o aproveitamento escolar, mas sobretudo conviva com os amigos deles e abra um canal direto para o diálogo sobre questões próprias de cada faixa etária, inclusive as escolhas amorosas e as dúvidas no delicado terreno da sexualidade.
Graças a essa convivência, acredite, você também reduzirá suas próprias angústias. Terá certeza de ser mais admirado e valorizado pelos que lhe são mais caros, o que é um bálsamo para a auto-estima. Terreno fértil, portanto, para o crescimento e permanência da felicidade, fruto abençoado de que o considerem, com justa razão, um pai amigo.
Moacir Costa
Médico, psicoterapeuta, coordenador do projeto Amar Bem e autor do livro Sem Drama na Kama, da editora Prestígio/Ediouro.