Gritos, intrigas e sabotagem: sinais reveladores de que um bully está em ação, montando armadilhas para colegas a cada passo (o termo bully, em inglês, é usado para designar a pessoa que pratica o bullying, uma atitude de agressividade física ou psicológica continuada, com o objetivo de intimidar ou prejudicar alguém dentro de um grupo).
Segundo pesquisadores do ambiente corporativo, com os níveis de estresse em alta nestes tempos de crise, tais encrenqueiros tendem a se tornar mais agressivos e a incrementar o ataque.
Talvez não seja surpresa o fato de que a maioria deles seja formada por homens, como revelou claramente uma pesquisa conduzida pelo Workplace Bullying Institute, grupo de apoio as vítimas de bullying. Os bullies do sexo masculino têm uma abordagem igualitária ao agir, atacando homens e mulheres relativamente na mesma proporção. Já as mulheres parecem preferir outras mulheres como alvo em mais de 70% dos casos.
Mas esperem um pouco. O que e isso?
A simples menção de mulheres intimidando outras mulheres no ambiente de trabalho parece estremecer as bases do movimento feminista. Como é que as mulheres podem romper as barreiras da discriminação no trabalho se são obrigadas a evitar os ataques verbais de outras mulheres em escritórios, corredores e salas de reunião?
"As mulheres não gostam de falar sobre o assunto, pois e algo tão antiético em relação à maneira que supostamente deveríamos nos comportar em relação a outras mulheres", disse a americana Peggy Klaus, executiva da área de treinamento em coaching de Berkeley, Califórnia.
"Esperam que sejamos acolhedoras e solícitas."
Pergunte as mulheres sobre disputas entre elas no ambiente de trabalho e algumas irão destacar que pessoas de ambos os sexos podem agir com má conduta. Outras irão concordar, com um movimento de cabeça imediato, enumerando exemplos de como as mulheres, muito mais do que os homens, as maltratam.
"Já fui sabotada por outras mulheres tantas vezes no trabalho que acabei deixando o mundo corporativo para abrir meu próprio negócio", disse Roxy Westphal, proprietária da empresa de produtos promocionais Roxy Ventures Inc., em Scottsdale, estado do Arizona. Ela ainda se lembra das ferroadas que levou ao ser entrevistada por uma mulher trinta anos atrás.
"Ela acabou se transformando em um pelotão de fuzilamento formado por uma única pessoa", conta a empresária, que acabou deixando o prédio às lágrimas na ocasião.
Jean Kondek, recém-aposentada depois de uma carreira de 30 anos em publicidade, lembra-se da raiva que sentiu quando a gerente de uma pequena agência convocou uma reunião para criticá-la na frente de seus colegas por ela não ter seguido os procedimentos da agência em uma situação de emergência com um cliente.
Kondek disse, porém, que ela teve a palavra final na reunião. Ela conta que pediu aos participantes para se retirarem, dizendo, em seguida, a gerente: Não é assim que se lida com isso.
Véu de silêncio
Muitas mulheres que ainda se encontram no mercado de trabalho se mostraram hesitantes em falar abertamente sobre o assunto, temendo tornar a situação ainda pior ou mesmo por em risco suas carreiras. Uma contadora da Califórnia conta que logo que entrou em uma empresa, recentemente, foi intimidada por duas mulheres que ali trabalhavam. Ela afirma que uma delas chegou a empurrá-la durante uma discussão que tiveram no refeitório. É como se tivéssemos voltado para o colegial, disse ela.
Uma executiva sênior disse que havia finalmente vencido o preconceito até que outra mulher chegou para roubar seu emprego, dizendo à gerência: é impossível trabalhar com ela, ela não coopera.
"Uma razão que leva as mulheres a escolherem outras mulheres como alvo talvez seja a ideia de que elas podem encontrar alguém menos confrontante ou menos propenso a responder a agressão com outra agressão", disse Gary Namie, diretor de pesquisas do Worplace Bullying Institute, que coordenou o estudo em 2007.
Porém, pode ser que exista outra dinâmica em funcionamento. Segundo a Catalyst, grupo de pesquisas sem fins lucrativos, depois de cinco décadas de lutas pela igualdade, as mulheres hoje ocupam mais de 50% das posições de gerência, cargos profissionais e ocupações relacionadas. Entretanto, o censo de 2008 revelou que as mulheres representam apenas 15,7% dos executivos de alto escalão e 15,2% dos diretores que fazem parte da lista Fortune 500.
Dois pesos e duas medidas
Especialistas em liderança se perguntam se as mulheres estão sendo excessivamente agressivas por existirem tão poucas oportunidades de avanço. Ou seria isso um estereotipo, uma falsa impressão de que as mulheres estão sendo excessivamente agressivas? Existiriam dois pesos e duas medidas no ambiente de trabalho?
Pesquisas do grupo Catalyst sobre estereótipos de gênero sugerem que não importa como as mulheres escolham liderar, os outros nunca acham que elas estão certas. Alem disso, o grupo também constatou que as mulheres precisam trabalhar duas vezes mais duramente do que os homens para conquistar o mesmo nível de reconhecimento e provar que podem liderar.
Se as mulheres em posições de liderança nos negócios agem de forma consistente com os estereótipos de gênero, elas são taxadas de mole demais, constatou o grupo por meio de um estudo em 2007. Se elas vão contra os estereótipos de gênero, são consideradas duras demais.
As mulheres estão tentando descobrir a chave magica para a porta do reino, disse Laura Steck, presidente do Growth and Leadership Center em Sunnyvale, California e executiva de treinamentos em liderança. Quando as mulheres sentiram que precisavam ser agressivas para conseguir uma promoção, disse ela, continuaram agindo assim. Então, de repente elas percebem a necessidade de agir com mais coleguismo e coopera;cão, em vez de serem competitivas.
Joel H. Neuman, pesquisador da State University of New York, em New Paltz, afirma que o comportamento mais agressivo no ambiente de trabalho é influenciado por diversos fatores que envolvem os bullies, suas vitimas e as situações sob as quais eles trabalham. Isso incluiria questões relacionadas a frustrações, traços de personalidade, percepções sobre tratamentos injustos e uma serie de traumas associados ao ambiente de trabalho mais hostil e exigente dos dias de hoje, disse ele.
Newman e seu colega Loraleigh Keashly, da Wayne State University, desenvolveram um questionário de 29 perguntas para identificar um conjunto de comportamentos que podem constituir o bullying, o que poderia ajudar empresas a identificar problemas que geralmente passam despercebidos.
A pratica do bullying envolve formas verbais e psicológicas de comportamento agressivo (hostil), persistindo por um período de no mínimo seis meses. O questionário inclui perguntas do tipo: Nos últimos 12 meses, você percebeu com regularidade que foi encarado de maneira hostil, foi tratado de maneira grosseira ou sem respeito, ou ainda passou por uma situação em que outras pessoas não negaram falsos rumores sobre você?
Mais comum do que se imagina
O Workplace Bullying Institute afirma que 37% dos trabalhadores ja sofreram bullying. Segundo dados do instituto, embora muitos empregadores ignorem o problema, o mesmo acaba afetando o faturamento e os custos relacionados a assistência médica e a produtividade. Segundo o instituto, ações judiciais são raras, pois não existem leis que se aplicam a questão diretamente, alem dos altos custos envolvidos.
Duas pesquisadoras canadenses recentemente se propuseram a examinar o tipo de bullying que ocorre entre mulheres. Eles constataram que algumas mulheres podem sabotar outras por sentirem que ajudar suas colegas do mesmo sexo poderia por em risco suas próprias carreiras.
Uma das pesquisadoras, Grace Lau, candidata ao titulo de Ph.D da University of Waterloo, disse que o objetivo era encorajar as mulheres a ajudarem umas as outras. Ela disse: Como? Uma maneira que propomos e lembrar as mulheres que elas fazem parte do mesmo grupo.
Nós acreditamos que um senso de orgulho em relação as conquistas femininas seja importante para fazer com que elas ajudem umas as outras, disse Lau. Para ter este sentimento de orgulho, as mulheres precisam se conscientizar de que compartilham de uma identidade comum.
Entretanto, é pouco provável que no ambiente de trabalho as mulheres pensem sobre si mesmas com membros de um mesmo grupo, disse ela. E mais provável que elas vejam a si mesmas como indivíduos, uma vez que são julgadas por seu desempenho.
Como resultado, pode ser que as mulheres não sintam que precisam ajudar umas as outras, disse ela. Elas podem até sentir que, para crescer, precisam ser agressivas como suas colegas, escondendo oportunidades de promoções, achando também que é mais fácil puxar o tapete de outras mulheres do que dos homens porque supostamente as mulheres são menos duras.
Klaus, a executiva da área de treinamento em coaching, comentou a questão do bullying: Chegou a hora de lidarmos com este tipo de relacionamento que as mulheres tem entre si, pois isso certamente está impedindo que tenhamos o sucesso no trabalho que almejamos ou que deveríamos ter. Ja temos obstáculos suficientes, não precisamos criar mais outros.
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