Tai uma conversa interessante, que muitas vezes apresenta opiniões opostas quanto à validade e aplicabilidade de um processo de consultoria ou assessoria em uma empresa, principalmente, quando se trata de organizações de pequeno e médio porte.
Neste contexto, surgem questões como: Será que tenho condições de ter uma consultoria em minha empresa? Será que preciso desse “negócio” mesmo? Não é coisa só de empresa grande? Esses consultores vão mesmo é querer mudar tudo que eu fiz até hoje. E vai por ai a fora.
Mas até que tem lógica. Tem mesmo fundamento pensar assim, afinal, mesmo os “consultores”, sempre estão alertando os empresários sobre os vendedores milagreiros que aparecem, as oferendas de crédito fácil da rede bancária, das empresas de “marketing” com suas listas telefônicas e outras ofertas “super” interessantes, pra eles, é claro.
E no campo da dúvida, o empresário, invariavelmente, acha que o consultor está querendo atrapalhar um bom negócio, ou está querendo ”se fazer de sabe tudo”, e a partir daí começa o questionamento e, o pior, começa a série de adjetivos: O cara é chato, é desconfiado, ele pensa que sabe tudo do meu negócio. Infelizmente é assim mesmo, mas, é normal. È fato.
Apesar de todo estigma, e também apesar de toda controvérsia existente com relação a esta atividade profissional, é bom salientar o lado positivo desse pessoal que, de certa maneira, se apresenta para ajudar e contribuir com seus contratantes naquilo que eles “julgam” ser a razão de seus problemas.
Com a dinâmica do mercado, seus direcionamentos e desdobramentos, que muitos pensam e chamam de crise, com a exigência crescente vinda do consumidor, aliás, aquele mesmo que até há pouco tempo não reclamava e estava sempre ali, presente, e com o fantasma do concorrente aproveitando as brechas encontradas, aparecem as inevitáveis perguntas: O que está acontecendo? Por que minhas vendas estão caindo? Aí, como sempre, chegam as compensatórias e justificáveis saídas – É a crise mesmo.É a política econômica, etc..
Neste momento, após muita relutância, por indicação e até, de certa insistência, de um amigo ou terceiro influente, parte-se para uma tentativa junto a um profissional que se apresenta como consultor de empresas.
E o profissional chega e começa por querer conhecer a empresa, a sua história e, obviamente, ouvir o empresário e saber dele os motivos que o levaram a chamá-lo até sua empresa, com o intuito de identificar tecnicamente o real problema existente.
Pronto. “Iniciam-se as justificativas: Ou o concorrente é desleal, a inadimplência que é altíssima, os vendedores que não se empenham nas vendas, é o aumento excessivo das reclamações por parte dos clientes quanto à qualidade dos produtos”, e toda sorte de lamurias, mas, nunca se ouve: “acho que estou errando nisso ou naquilo”,” tenho alguma dificuldade nisso”. Isso nunca.
De posse das informações, da coleta e mensuração de dados específicos, inicia-se o que se chama de clareamento de sentimento, ou seja, o diagnóstico, para poder se apresentar o devido plano de ação e atacar os pontos cruciais.
A partir daí o processo começa a mudar. É nessa fase que o consultor faz com que as “feridas” sejam expostas, e os problemas reais sejam apresentados e as falhas sejam comprovadamente direcionadas e detalhadas de maneira compreensível aos empresários, que reagem de maneira diferente nesta hora.
Muitos tentam se justificar, outros aceitam de imediato, e existem os que se mostram favoráveis na implantação de um processo de reestruturação, porém, apresentando suas restrições e tentando estabelecer limites “particularmente favoráveis”.
Após a apresentação do plano de ação, com os passos e regras de sua execução, iniciam-se os trabalhos na empresa, com ampla colaboração da maioria dos colaboradores e proprietários, certo ceticismo por parte de outros e, enfrentando também uma natural resistência de alguns.
Esta resistência é compreensível devido ao fato do ser humano apresentar dificuldade e até relutância por mudanças, seja no aspecto comportamental, como também de ordem física e ambiental. Muitos temem por perderem a situação confortável na qual se encontram, outros temem não se adaptarem a novas situações e exigências e, como sempre, há os que tentam se esquivar e omitir dados e informações por terem ciência de sua participação em algum ponto gerador de gargalos ou desconformidades na empresa.
Neste compasso seguem as ações, sempre com muita transparência, assembléias contando com a participação de todos e com trabalhos direcionados estrategicamente. Assim, as sugestões e adequações são passadas pelo consultor através de relatórios técnicos e por meio de reuniões com a direção da empresa, respeitando-se as limitações de caráter humano e financeiras, mas, com rigor e com indicadores de melhorias de resultados.
A grande satisfação de um profissional que atua na linha de consultoria está diretamente ligada aos resultados obtidos já no andamento do trabalho. Para tal, é necessária a aplicação e comprometimento por parte de toda equipe e, principalmente, do espírito e exercício de liderança do empresário, pois, se ele não acreditar e se envolver no projeto, não conseguirá fazer com que os funcionários, e também sócios e gerentes, se entreguem ao propósito.
É comum se encerrar o trabalho em uma empresa e ficar a amizade, não somente com seus proprietários, mas também com a sua equipe. Isso é amplamente gratificante e faz bater aquele sentimento de que você pôde contribuir de alguma forma para um desenvolvimento melhor na empresa e para o crescimento de algumas pessoas.
Mas, acontece também de você deixar o trabalho com os agradecimentos e reconhecimentos de boa parte dos profissionais envolvidos e, com a sensação de ter deixado um grupo de pessoas não muito satisfeitas, ou pelo menos, com seus interesses contrariados.
É assim mesmo. Faz parte. Mas o que interessa é que todo consultor exerce seu trabalho sempre com o objetivo de trazer melhoria, desenvolvimento, sem parcialidade e sem protecionismo, mesmo que angarie dissabores e até desafetos.
Voltaremos a esse assunto em breve, com mais detalhes e com pontos interessantes, normalmente enfrentados nessa missão apaixonante e, muitas vezes, crucificada. Luiz Antonio Farina Dias , Consultor Empresarial. Engenheiro, Economista. Pós Graduado em Gerência Empresarial pela FACESM. Pós Graduado em Qualidade e Produtividade pelo Departamento de Engenharia de Produção da UNIFEI. Mestre em Engenharia de Produção pela UNIFEI. Professor Universitário. Para falar com o autor, use o e-mail luizfarina@bol.com.br