No nível organizacional, é a mesma coisa: a empresa é um intermediário entre fornecedores e clientes — sem eles, ela também não existiria. Quanto melhores as relações, mais vida, mais colaboração, mais valor cocriado
Você conhece aquela sensação de ter comido demais e mesmo assim continuar comendo, sem nem ter tempo para digerir? Não estou falando aqui de comida, mas sim de conversas significativas, novas impressões e aprendizados que enchem a cabeça e o coração — e que precisam ser compartilhados.
Tudo começou com uma entrevista com Luiz Seabra, cofundador da Natura. Ele me disse que vê a vida como “uma sequência de relações”. Pensei: faz sentido. Se minha mãe não tivesse se apaixonado pelo meu pai, eu não existiria. No nível organizacional, é a mesma coisa: a empresa é um intermediário entre fornecedores e clientes — sem eles, ela também não existiria. Quanto melhores as relações, mais vida, mais colaboração, mais valor cocriado.
Mas essa não é a lógica predominante no mundo dos negócios. A forma como normalmente lidamos com os stakeholders — especialmente clientes e fornecedores — ainda é guiada pela maximização do lucro. A lógica é simples: pagar o mínimo aos fornecedores e cobrar o máximo dos clientes.
É aqui que outra fala do seu Luiz faz todo o sentido: “Usando o outro como espelho, você enxerga a si mesmo como você realmente é”. Se você fosse seu cliente ou seu fornecedor, como veria o seu próprio comportamento?
Nessa visão, o lucro é resultado de relações saudáveis — e o “sucesso” vai além do lucro. Nas palavras de Luiz Seabra: “A obsessão com o lucro e a participação de mercado é loucura". João Paulo Ferreira, CEO da Natura, complementou: “A ideia de que o negócio existe estritamente para gerar lucro aos acionistas está errada”. Agora imagine minha surpresa ao ouvir, na semana seguinte, o presidente da FDC, Antonio Batista, dizer: “Não visamos a maximização do lucro, porque isso significaria que não estamos usando nosso potencial para criar impacto”. Quase chorei!
Foram dias intensos, nos quais também conversei com Estevan Sartoreli, cofundador da Dengo. Descobri que a empresa foi criada para aumentar a renda de agricultores familiares de cacau na Bahia. Para isso, produzem chocolate delicioso, saudável e com uma cadeia sustentável. De forma muito parecida, a Natura vende produtos que promovem o bem-estar das pessoas e do mundo. Tem que ser bom para o fornecedor, para a empresa, para o cliente e para o Brasil. Como diria João Paulo Ferreira: “Eu devo criar valor para a sociedade. E tenho a oportunidade de fazer o bem todos os dias, por meio do meu trabalho.”
Fico particularmente feliz com a reformulação da missão da Fundação Dom Cabral, que veio junto com a nova marca [em 18 de março, a FDC, que completa 50 anos em 2025, apresentou sua nova identidade visual]. Agora a missão diz: “Contribuir para a prosperidade sustentável e inclusiva da sociedade, inspirando indivíduos e organizações por meio da educação e da produção de conhecimento”.
Quero terminar com uma reflexão que ouvi da Susana Arbex, especialista em branding: “Marca é o que falam de você quando você não está na sala”.
Se alguém perguntasse ao seu maior cliente: “O que você acha dela/dele/dessa empresa?”, o que você ouviria? E o que você gostaria de ouvir?
Se há diferença entre essas duas respostas, reflita. E ajuste seu comportamento. Porque, no fim das contas, a vida é mesmo uma sequência de relações — algumas mais duradouras, outras menos.
Por: Heiko Hosomi Spitzeck
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