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Comportamento.



Publicado em: 08/07/2024

Existe em torno do conceito de empreender um certo glamour. É aquela história de “seja seu próprio chefe”, “tenha autonomia para usar o seu tempo como quiser”, “trabalhe com aquilo que você é apaixonado”, entre outros.
Bom, já antecipo que a minha visão sobre isso é bem menos romântica do que a de quem segue a linha que mencionei acima. Pra cada um destes comentários eu facilmente conseguiria continuar a frase incluindo um “tem esse porém aqui”.

Há um bocado de coisas que ninguém conta. Afinal, é raro quem se vanglorie pelas dificuldades e tropeços que toma na vida. Isso não elimina o fato de que empreender tem sim vários pontos positivos, e pode inclusive ser algo maravilhoso, acontece que se ilude quem acredita que esse universo é um mar de rosas.
Pra quem empreende há um tempo sabe que ser o “seu próprio chefe” pode ser algo bastante solitário, mesmo quando se tem equipe ou um círculo de confiança para contar o que está acontecendo.
Atribuo uma boa parte dessa solidão à dura missão de (e faz parte do trabalho) precisar frequentemente tomar decisões que só você mesmo pode tomar.

As dores de decidir
Quem olha o empreendedor de longe, dificilmente consegue identificar todas as camadas que essa posição envolve.
São muitos “serás” quando se empreende, e eles são cotidianos, fazem parte da rotina.
• Será que está na hora de contratar? Será que está na hora de demitir?
• Será que estou cobrando certo? E se eu aumentar o preço, será que vão comprar de mim?
• Será que eu deveria ter um sócio? Será que eu deveria desfazer a sociedade?
• Será que eu deveria expandir meu leque de serviços/produtos? Ou será que deveria concentrar em uma parte deles?
• Será que é possível fazer algo para melhorar o atendimento aos meus clientes?
• Será que é possível repensar os processos internos para ganhar produtividade no meu dia a dia? Se sim, por onde começar?
E não tem como fugir, só a pessoa à frente da empresa que tem a vida (e o bolso) impactados por estas decisões que sabe, de fato, as dores de ter o seu próprio negócio.

Na consultoria financeira para pequenos negócios o que vemos com frequência, por falta de conhecimento técnico na área de gestão financeira, são grandes decisões tomadas apenas pelo “feeling”, sem embasamento.
Claro que nem só de números se alimenta uma tomada de decisão. Mas esse é um fator indispensável para a maioria dos negócios, afinal, se o negócio não para de pé, o empreendedor ali por trás também não tem uma vida agradável e, nestes casos, o caminho acaba sendo um só: fechar as portas.
E como tomar decisões com segurança?
Nem tudo é 08 ou 80, muitos passos são testes e isso faz parte do risco de empreender. No entanto, isso não significa que cada decisão tomada precisa acontecer às cegas.

Muitos dos caminhos possíveis poderiam ser testados com uma certa antecedência, antes de colocar muito em jogo. E sim, esse olhar se baseia em números, projeções e também na experiência e vivência de quem conduz o negócio.
E mais do que ter os números disponíveis, é preciso entender o que eles contam. Um mero lançamento de dados em uma DRE que só o seu contador olha dificilmente trará ferramentas para identificar gargalos e sugerir quais são os possíveis caminhos para melhorias.

Um pouco sobre o processo da consultoria
A consultoria financeira para pequenos negócios varia muito caso a caso, e por aqui atendemos empresas que estão em diferentes momentos (desde antes de nascer, até quem já tem muito tempo de estrada).
Falando especificamente de quando atendemos clientes que já estão rodando há um tempo, o primeiro passo costuma ser coletar os números e, juntos, traduzi-los no que chamamos de “modelo de negócio”.

Esse modelo é onde buscamos entender pontos como:
• Quanto a empresa fatura
• Qual é a margem de contribuição
• Em qual regime tributário a empresa se enquadra (ou deveria se enquadrar)
• Qual é a capacidade produtiva do negócio
• Quais são os custos que possui
• Quais são os investimentos necessários
• Quanto o sócio faz de retiradas

É só quando mapeamos essas informações que é possível identificar os principais gargalos que impedem melhores resultados para o negócio. É o momento em que entendemos onde há algum ponto em desequilíbrio – isso é, se existe um.
É também quando a gente consegue observar se o ritmo de produção deveria ser revisado, se os preços estão baixos demais ou se, por exemplo, há necessidade de um maior esforço comercial e no marketing para aumentar as vendas (que já antecipo, nem sempre é onde o problema mora).
Traduzindo o que os números de hoje nos contam, temos muito mais ferramentas para projetar o que aconteceria de diferente se mexêssemos em algumas dessas pecinhas. A ideia é central é, antes de fazermos grandes movimentos, conseguir simular o que é que deve vir a acontecer se dermos o passo que estamos pensando em dar. Coisas como:

• Qual seria o impacto de contratar ou demitir alguém?
• Qual seria o impacto de ter um espaço físico ou trabalhar home office?

Grande parte de todos aqueles “será’s” que apareceram no começo podem ser simulados antes de colocar muito dinheiro em jogo.
E mais uma vez: em muitos casos são mesmo testes, mas são testes direcionados e para os quais conseguimos nos antecipar sobre os prós e contras que devem aparecer no caminho.

Não há milagre, quando olhamos os números assim, empreender continua sendo correr riscos. Porém, ao invés de estar no escuro, é possível ter uma dose a mais de previsibilidade e segurança nos movimentos.

Por: Lorena Pires



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