O tempo é o nosso recurso mais valioso. Essa frase pode ser senso comum, mas infelizmente continuamos a desperdiçá-lo. E não só o nosso próprio tempo, mas também o tempo dos outros.
Mas por que o tempo, entre tantos outros recursos, é o mais valioso? Pelo simples fato que não tem como recuperar o tempo perdido. Dinheiro, fama, bens materiais, propósito, dignidade, sentido na vida… todas essas coisas são recuperáveis, menos o tempo. Podemos encurtar ou expandir nossa percepção do tempo, mas não conseguimos voltar atrás. Como diria Djavan, o que passou, passou.
Se estamos buscando criar um presente e futuro do trabalho mais flexível, mais colaborativo e mais centrado nas pessoas, precisamos valorizar e respeitar o tempo, seja o nosso ou dos outros. Mas como alcançar isso?
Para tentar responder essa questão, vamos considerar dois perfis de pessoas: (1) quem precisa respeitar mais o tempo dos outros e (2) quem precisa valorizar mais o próprio tempo.
Para o primeiro perfil, aqui estão três pontos para começar a valorizar mais o tempo dos outros:
1- Ter mais paciência
Ter paciência é também ter mais empatia. Quando você percebe que ninguém tem a vida inteira resolvida, mas que as pessoas estão fazendo o melhor que podem de acordo com o próprio nível de consciência – ou como diria Bukowski, “ninguém realmente sabe o que está fazendo também” –, a vida fica mais fácil para todos. Cada um tem a sua própria mala para carregar, então não coloque mais peso na mala dos outros só porque você está com pressa.
2- Pensar em longo prazo
Lilia Porto já falou sobre isso em outro artigo, mas aqui relaciono a nossa falta de capacidade de pensar no longo prazo ao tomarmos as nossas decisões no dia a dia. Não gostamos de admitir, mas tendemos a priorizar o que é urgente e nem sempre ao que é importante.
No livro Flow: the psychology of optimal experience, o Prof. Mihaly Csikszentmihalyi explica que, “a menos que uma pessoa saiba como ordenar seus pensamentos, a atenção será atraída para o que for mais problemático no momento”. Tem quem chame isso de produtividade, mas quem tem urgências para resolver o dia todo é hospital. Caso contrário, você basicamente transforma “desorganização” em estilo de vida. E nós pagamos caro por isso: com tempo. Antes de querer fazer tudo e deixar os outros na mão, pergunte-se: “será que eu vou conseguir me comprometer com tudo isso?”. E ah, use uma agenda.
3- Asteya
Esse termo em sânscrito é um dos princípios éticos do Hinduísmo e significa “a abstinência, nas próprias ações, palavras ou pensamentos, da apropriação não autorizada de coisas de valor de outro ser humano”. Em outras palavras, “não roubar”. E não é só o lanche dos seus colegas, mas o tempo das pessoas também.
Sabe aquela reunião que você marcou, não apareceu e também não avisou que não ia poder comparecer? Sabe aquele trabalho hiper mega urgente que você cobrou alguém para entregar, porque precisava para ontem, e depois ficou semanas rolando na sua caixa de e-mail como não lido? Vai doer, mais alguém precisa te dizer isso: você está se apropriando (“roubando”) do tempo das pessoas.
Agora, se você faz parte do segundo perfil, que precisa valorizar mais o seu tempo e evitar que te “roubem”, aqui vão três dicas:
1- Segurança em duas etapas
Pessoas que “roubam” o tempo dos outros podem ser caóticas e desorganizadas, e podem querer assumir mais responsabilidades e compromissos do que são humanamente capazes de cumprir. Por isso, uma solução é sempre enviar um lembrete algum tempo antes para relembrá-las.
Por exemplo, se você tem uma reunião marcada com essa pessoa às 14h, envie uma mensagem às 12h perguntando “Tudo certo para a nossa reunião às 14h no prédio B (ou via Zoom)?”. Certifique-se que na mensagem tem todas as informações necessárias para que a reunião aconteça, evitando que alguma coisa escape. Se a pessoa visualizar sua mensagem e não responder, considere que a reunião poderá não acontecer e talvez melhor se antecipar com outra atividade. Na pior das hipóteses, você terá como provar que lembrou do compromisso e enviou um pedido de confirmação.
2- Respeite o seu próprio ritmo
Normalmente, pessoas que costumam “roubar” o tempo dos outros tem um ritmo próprio, que pode ser acelerado ou alucinante, e que pode não ser saudável – nem mesmo para elas. Por isso, é importante estabelecer alguns limites e não se deixar levar pelo turbilhão de tarefas e compromissos que querem lançar para cima de você. Saber dizer não sem gerar conflito é fundamental; o segredo é como. .
Uma técnica que uso é a seguinte: o primeiro passo é entender se alguém quer que você faça várias coisas ou entregue resultados em prazos irreais. Como certamente essa pessoa não parou para refletir sobre “o tempo”, vale você fazer isso por ela. Assim, uma forma de evitar o conflito e sair da situação no ganha/ganha é apresentar soluções possíveis e mais realistas para as tarefas, ou sugerir um prazo que não comprometa a qualidade da entrega e, principalmente, do seu trabalho.
3- Defina seu próprio tempo e ritmo
So Good They Can´t Ignore You (algo como “Seja tão bom naquilo que faz que não podem te ignorar”) é o nome do livro de Cal Newport e recomendo fortemente que leia. O livro traz vários pontos interessantes para se ter uma vida profissional mais saudável, mas quero destacar aqui a importância do controle. Para Newport, definir seu próprio tempo e ritmo, como falei no tópico anterior, é essencial para estabelecer esse controle. Só que a moeda de troca para obter controle será a qualidade do seu trabalho – o que o autor chamou de capital de carreira. Em outras palavras, você só pode ditar as regras se as pessoas reconhecerem o valor do seu trabalho.
A chave é saber quando é o momento certo para ter coragem em suas decisões de carreira. Talvez alguém no início da vida profissional, ou que acabou de mudar de área, ainda não tenha acumulado capital de carreira suficiente para assumir o controle. Tenha paciência. Isso é uma coisa que você só contrói com o tempo. Então valorize o seu.
Por: Felipe Zamana
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