O dinheiro não é apenas um meio para adquirir bens. Em torno dele nascem e florescem muitas emoções. De fato, conseguir mais dinheiro é o ponto central da agenda de muitas pessoas, e gastar mais do que se tem, a torto e a direito, é o ideal seguido por muitos.
Embora seja triste reconhecer, o consumo ajuda algumas pessoas a encobrir ou compensar várias de suas carências e necessidades emocionais nos momentos que vivenciam. Tudo funciona de maneira sutil. O que não é sutil são as contas no final do mês, nas quais fica claro que foram pegas pela armadilha de gastar mais do que se tem.
A economia atual nos quer endividados, o que é incrivelmente lucrativo para muitos. Eles nos induzem a gastar mais do que ganhamos, “facilitando” nossas compras o máximo possível.
Eles nos “obrigam” a gastar porque sabem que carregamos algum desconforto. A publicidade e o marketing fazem todo o possível para formarmos a ideia de que o que nos acontece se resolve comprando, embora não diretamente, mas com insinuações e sugestões.
Gastar para encobrir dificuldades
É comum que os que gastam demais possuam uma falta de estímulos ou incentivos em suas vidas. Vão às compras para “se sentirem melhor”. Isso ocorre porque comprar alimenta uma sensação inconsciente de poder e controle. O mercado está a seus pés e é você quem decide o que leva ou não. O cliente está certo. O cliente é servido com deferência. Ali, você tem a primeira compensação pelo o que te frustra.
Então, quando você já tem um endividamento excessivo, também pode encontrar nele um mecanismo para processar seu desconforto com a vida. Dever dinheiro e cair na rede do crédito também ajuda a encobrir algum pesar não resolvido, ou alguma angústia que não para.
É mais fácil administrar a ideia de que nos mantemos acordados pensando em como pagar dívidas, e não no que fazemos por uma razão imprecisa e latente. Também é mais fácil viver em função de ajustar as contas do banco do que assumir um sentimento de insatisfação geral.
A manipulação para gastar mais do que se tem
Existem duas realidades psicológicas que tornam os consumidores particularmente manipuláveis: o medo e a culpa. Os mecanismos de persuasão usados pela publicidade quase sempre estão relacionados a essas duas emoções. A mensagem que enviam é indireta. O habitual é que encenem uma situação cotidiana em que a tranquilidade e o bem-estar estão associados ao consumo de um produto. Naturalmente, fica para a sua livre interpretação o que acontece quando você não consome.
Existem também outras maneiras de manipular. Em 1977, um experimento foi realizado na Universidade de Cornell (Estados Unidos). Um grupo de indivíduos recebeu um teste falso. Um dos participantes, que na verdade era um investigador infiltrado, saiu da sala e voltou com refrigerantes gratuitos para várias pessoas. Ao final do suposto teste, o mesmo infiltrado pediu que comprassem bilhetes para uma rifa. Os que haviam recebido o refrigerante compraram o dobro de bilhetes.
Depois repetiram o experimento, mas desta vez não havia refrigerantes gratuitos. Apenas um pequeno número de participantes comprou os bilhetes. Verificou-se que essas gentilezas nos induzem de maneira decisiva a comprar, a gastar dinheiro. Essa é a razão pela qual você recebe tantas amostras grátis quando vai a um supermercado. É também a razão pela qual você recebe presentes do comércio por várias razões. Eles sabem que assim você gastará mais dinheiro na próxima compra.
Os exemplos são muitos. Existem áreas especializadas em estudar o comportamento do consumidor. O sistema, em particular o sistema financeiro, precisa que estejamos ávidos para comprar e endividados para sempre. Eles nos vendem uma fantasia de falso controle e falsa satisfação, e essa é a primeira coisa que compramos. É disso que se trata.
Por: Christofer C.Silva - Pensar Bem Viver Bem
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