Sinto informar, caro leitor, que você foi ludibriado. A grama do vizinho é, certas vezes, realmente mais bonita. Mas digamos que ele só mostre a parte da frente do jardim, com suas florzinhas e abelhinhas saltitantes? E a de trás é um vasto terreno infértil, cheio de entulhos de 1916? Esta metáfora primaveril se aplica como uma luva de jardineiro às redes sociais.
O que não pensamos é quando fulano, beltrano e sicrano vestem seus respectivos pijamas para ficar no sofá. Afinal de contas, como lembra a psicóloga Ana Maria de Albuquerque Lima, ninguém (ou quase ninguém — a cantora Miley Cyrus, por exemplo, posta fotos fazendo depilação e xixi) exibe na internet o seu lado entediante.
Por isso, achamos que estamos sempre perdendo alguma coisa. É o que os especialistas definem como Fear of Missing Out (Fomo) ou medo de ficar de fora.Somos bombardeados o tempo todo com o jantar do fulano no Instagram, a viagem do beltrano no Facebook, a festa do sicrano do Snapchat. E você em casa, de pijama...
A antropóloga Mirian Goldenberg lembra que todas as pesquisas que medem o grau de felicidade das pessoas apontam dois quesitos fundamentais para a tristeza: comparação e falta de econhecimento. E adivinhe o que as redes sociais mais evidenciam?
— Há alguns anos, você se comparava com pouquíssimas pessoas: cunhada, prima, vizinho. Hoje, o que era distante se tornou próximo, e a ideia de reconhecimento e de aprovação vem dos likes do Facebook — diz.
Mirian lembra de outra pesquisa relacionada à felicidade. Ofereceram R$ 15 mil a quem ganhava R$ 10 mil. Assim, estaria equiparado a quem tinha o salário mais alto. Para surpresa dos estudiosos, o candidato preferiria ganhar menos, R$ 11 mil, se a remuneração do restante fosse diminuída para R$ 10 mil. É um ganho subjetivo: o de ser superior.
Para Cristiano Nabuco, do Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP, a opinião dos outros é o que importa. E obter aquele tão sonhado reconhecimento social gera um processo de estresse e de ansiedade:
— Isso explica por que quase 90% das fotos postadas nas redes sociais são retocadas. É como se o indivíduo tentasse calibrar o que tem de melhor para mostrar para os outros.
Quanto maior o número de postagens, maior é a necessidade de aprovação. O cruel é que, às vezes, o sujeito erra na mão, provocando o efeito que justamente desejava evitar: vira um chato, e as pessoas passam a evitá-lo.
Depois disso, haja fertilizante para deixar a tal grama mais bonita...
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