Revista O Empresário / Número 103 · Novembro de 2006
por José Mello Jr.
De cada dez candidatos a futuros empresários que procuram orientação com nossa empresa, somente um abre o seu negócio. Muitos até nos vêem como antipáticos e que deveríamos motivá-los a iniciar seu próprio empreendimento. No entanto, não temos bola de cristal nem inventamos situações, apenas procuramos mostrar ao futuro empreendedor como as coisas funcionam na vida real, pois estamos longe de fazer o roteiro da novela das oito. Estamos, sim, construindo o futuro de uma empresa e preservando o capital do empreendedor.
Inicio dessa forma, pois apesar de estarmos em plena era do conhecimento, informação, tecnologia, comunicação rápida e ação com velocidade, algumas pessoas insistem em abrir seus negócios sem um mínimo de planejamento, movidos pelo impulso, por uma idéia que surgiu depois de algum tipo de inconformismo profissional e pessoal, sem medir as possíveis conseqüências, tempo de maturação, retorno de investimento e auto-sustentabilidade.
Como exemplo, falarei sobre uma pequena loja, aberta há cerca de três meses, com muita motivação e expectativa da comunidade. Porém, conversando informalmente com o proprietário antes de abri-la, fiquei preocupado. Segue algumas colocações feitas por ele: “Isso aí é para minha esposa, pois tenho trabalho fixo e não vou largar o certo para correr riscos. Por isso não poderei dedicar-me em tempo integral e nem minha esposa que trabalha há vinte anos em uma empresa estatal. Vamos colocar uma vendedora e a gente vem uma vez por dia para ver como estão as coisas. Se a coisa der certo, mais adiante, quem sabe minha esposa mesma toca o negócio. Quanto ao segmento, o escolhi porque acho que pode dar certo, já que tem pouca opção nesta cidade”.
E o proprietário da loja continuou: “Não pesquisei porque não achei que era preciso. Nenhum de nós tem afinidade com o produto. É nossa vendedora quem vai fazer o show. Ela trabalhava em uma lanchonete e atendia bem. Achamos que pode dar certo. Não sabemos qual é o custo fixo, mas se acabar o dinheiro, fecho”.
Parei por aí, mas achei que meus questionamentos e considerações o fariam pensar um pouco. Qual foi minha surpresa quando, um dia antes do início da copa do mundo, um carro de som avisava a comunidade que uma nova loja estava sendo inaugurada naquele local – e não tinha ao menos uma placa que indicasse seu nome! Para encurtar a história, os dias foram passando e, como tive a conversa acima com o proprietário, acabei ficando atento aos acontecimentos e “espionando”, no bom sentido: pouco movimento. A vendedora, sem um mínimo de vontade de vender, passando horas e horas de conversa com outras amiguinhas da rua, nunca visitou seus vizinhos, possíveis clientes. E no final de semana das eleições (primeiro turno, este ano) havia um aviso no vidro da porta da loja: “Mudamos para o endereço...” As pessoas que passavam por ali perguntavam se tinha fechado mesmo e porque. Eu não sei! Quem errou? O que faltou? Experiência? Conhecimento? Motivação? Planejamento? Pesquisa?
Quero que esta história sirva de reflexão e mostre que podemos e devemos, sim, empreender e montarmos nosso próprio negócio. Mas é preciso planejar para acontecer, não acontecer para planejar.
O que mais me assusta não é relatar esse caso como caso isolado, mas é que existem muitos casos como esses em todo o país.
(exclusiva on line)