É difícil encontrar alguém que não queira ser mais feliz. No entanto, Luiz Gaziri, autor do livro A Ciência da Felicidade, considera que o assunto não é tratado com seriedade no Brasil.
“Fui executivo por 16 anos, há 7 anos mudei de carreira de forma radical, passei a dar aulas, consultoria, palestras e escrever livros. Nas duas carreiras, o tema era considerado uma bobeira”, conta ele para EXAME.
Motivado pela quantidade de pesquisas no exterior sobre psicologia positiva, Gaziri foi atrás dos professores e pesquisadores mais renomados na área, como Sonja Lyubomirsky e Tal Ben-Shahar, conhecido como o professor da felicidadepor suas aulas em Harvard. O livro é resultado dessa jornada por conhecimento.
“O Brasil hoje ainda é muito pobre de recursos, pensamos na felicidade com muita base na intuição. Para o executivo, essa felicidade por intuição não ajuda a verdadeiramente se tornar mais feliz”, diz ele.
Ele também é professor de pós-graduação na FAE Business School, ISAE/FGV e PUC-PR. Na primeira instituição, ele leciona uma matéria sobre felicidade que tem uma lista de espera de oito meses para conseguir uma vaga. Para ele, a popularidade mostra que o tema é uma preocupação dos jovens.
“Muitas vezes a gente acredita que quando mudar de emprego ou ganhar uma promoção, vai ser mais feliz. E a gente só pensa no lado bom das coisas. É a falácia da chegada: você acredita que será feliz ao atingir um objetivo, fica menos feliz do que imaginava e logo seu nível de felicidade volta ao normal”, fala ele.
Segundo autor, o grande problema atualmente é que as pessoas não sabem o que as deixam mais felizes. Em entrevista, ele falou sobre como fazer escolhas para ter uma vida e uma carreira que trazem felicidade. Confira:
EXAME: No livro, você fala que 40% da sua felicidade e do seu sucesso depende de suas escolhas. O que significa essa estatística? Que outros fatores estão nos 60%?
Luiz Gaziri: 50% é genética, vem dos nossos pais uma tendência a ser feliz, ou tendência a depressão e outras condições psicológicas. O ponto importante são os 10% que representam circunstâncias da vida, a pessoa é moldada por isso: onde trabalha, cidade onde mora, se é fria ou quente, se tem carro, é casado ou solteiro, se tem filhos ou não.
E elas vão mudando durante a vida. Essa é a prova de que as pessoas não sabem o que as deixa felizes, pois colocam todo o peso nessas circunstâncias. Bater uma meta, comprar um carro, ser rico… colocam o peso da felicidade nos fatores que aumentam no máximo 10% dela.
Esse estudo, para você entender, pela pesquisadora Sonja Lyubomirsky, uma das maiores autoridades dessa ciência, mostra que 40% dos fatores da felicidade estão relacionados a atividades que dependem da nossa vontade própria. 40% são escolhas.
Dando o exemplo que descobri nos estudos: podemos escolher ter uma vida não materialista ou ter o objetivo único de ser milionário. Quando escolhe a primeira, escolhe ter melhores relacionamentos, mesmo ganhando menos. Não ter o carro da moda, mas poder ficar com a família.
Essas escolhas trazem sentimentos bons, essas escolhas aumentam de forma significativa a felicidade. Ter boas interações com outras pessoas, ajudar os colegas de trabalho ou doar dinheiro para a caridade são valiosas fontes de felicidade.
EXAME: Como a relação entre dinheiro e felicidade é vista pela psicologia positiva?
Luiz Gaziri: Temos uma crença de que ser feliz é ter dinheiro. Cientistas mostram que pessoas muito ricas não são mais felizes que outras. Na verdade, é mais comum serem pessoas que nunca estão satisfeitas, que sempre se comparam com os outros, acham que os outros têm mais.
O estudo do Daniel Kahneman mostra que a relação de crescimento de felicidade em relação ao dinheiro tem limite. Esse limite é uma vida de classe média, com comida, possibilidade de comprar roupas, ter uma casa, ter acesso a entretenimento. Mais do que isso, não aumenta a felicidade.
EXAME: Existem pessoas com mais facilidade e com mais dificuldade de tomar decisões? Isso influencia a felicidade?
Luiz Gaziri: Com certeza! A dificuldade de tomar decisões influencia a felicidade. Essa atitude vem do meio onde as pessoas estão e vem da criação que tiveram, dos seus pais, suas condições na infância. Cientistas descobriram, por exemplo, que ter uma infância humilde faz com que as pessoas, quando adultas, supervalorizem o sucesso financeiro e o materialismo.
E elas pensam que a única maneira de ter sucesso é tendo dinheiro e bens. E vimos que materialistas são menos felizes. O próprio ambiente corporativo manda o sinal de que ter sucesso é ter um carro importante, uma sala só sua, cartão com o título de CEO. E isso dificulta comportamentos pró-sociais e valoriza os comportamentos individualistas e egoístas.
Além da família, nossas escolhas são moldadas pelo ambiente, como ter um amigo que fuma aumenta a probabilidade de que você fume. Até mesmo uma pessoa que você não conhece, como um amigo do seu amigo ser fumante, pode afetar seu comportamento. Somos um reflexo das pessoas com quem convivemos. Assim, os ambientes têm que mudar para que as pessoas se moldem por atitudes positivas, não individualistas.
Com o modismo da meritocracia no trabalho, colocam o sucesso financeiro como o único possível, ser feliz se torna difícil.É difícil encontrar alguém que não queira ser mais feliz.
No entanto, Luiz Gaziri, autor do livro A Ciência da Felicidade, considera que o assunto não é tratado com seriedade no Brasil.