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Comportamento.



Publicado em: 10/11/2019

Por que temos tanta dificuldade para demonstrar nossos sentimentos e nossas emoções?

Porque ainda é visto como um sinal de fraqueza, de vulnerabilidade, quando na verdade é uma demonstração de sensibilidade.

A sensibilidade é um ponto forte, não uma fraqueza.

Somente o sensível é confiável.

Não se deve nunca confiar no insensível, no que não sente e não sofre.

A pessoa dura, sem escrúpulos, centrada unicamente no resultado econômico à custa da vida emocional do outro deveria entrar na categoria das espécies em extinção.

Não será tarefa fácil, já que a história não joga a nosso favor; é provável que tenhamos a tendência a fazer o que nos fizeram.

Se você não foi cuidado, é difícil que saiba cuidar.

Se não te amaram, é difícil que saiba amar.

Se não te escutaram, é difícil que saiba escutar.

Se você não teve limites, é difícil que saiba colocá-los.

Se não te deram reconhecimento, é difícil que possa dá-lo.

Se não te mostraram confiança, é difícil que confie no outro.

Podemos constatar a dificuldade de mostrar os sentimentos e as emoções, e observá-lo, quando nos referimos à forma de nos relacionar com nossos filhos e nossos netos.

Os que são pais e avós podem confirmar na maioria dos casos. Quando se é pai ou mãe, demonstra seus sentimentos de carinho, de ternura, de reconhecimento, mas na maior parte das vezes ficam em segundo plano, já que o primeiro é ocupado pelo senso de responsabilidade, exigência, autoridade, definitivamente, de “não deixar os filhos mal-educados”.

É comum escutar os pais falando de como é difícil a tarefa de ser pais. E é. Das coisas mais difíceis que existem e uma das poucas tarefas de responsabilidade em que não se exige formação nenhuma.

Também é comum escutar os avós falando de como é gratificante ser avós. E é.

A razão dita por uns e outros é que, quando somos pais, a responsabilidade não nos permite “aproveitar”. Mas quando somos avós, como a educação dos filhos já cabe aos pais, podemos nos divertir. Como se educar e ter bons momentos fossem atividades incompatíveis.

Quando se é avó soltamos tudo o que gostaríamos de fazer como mãe com os filhos e, sem saber muito bem por que, não fizemos.

De fato, em meu consultório pude escutar alguns de meus pacientes de paternidade recente reconhecerem que sentem ciúmes de como seus pais tratam seus filhos –ou seja, os netos–, já que manifestam sentimentos e realizam ações que não se lembram e nunca viram fazerem com eles.


“Minha mãe é feliz levando meus filhos às diversões, não me lembro de jamais ter nos levado”. E também: “Meu pai sozinho montando um brinquedo...! Se não visse, não acreditava!”.

Há um fato que podemos observar na rua. Vamos prestar atenção como vão ao colégio uma mulher e um homem com seus filhos e como o fazem os avós com os netos. Habitualmente vemos a mãe e o pai na frente do filho, “puxando” a criança, literalmente arrastando-a em direção à escola.

E, por outro lado, quando os netos vão acompanhados pelos avós, costumam ir caminhando tranquilamente ao seu lado. Como se os pais sentissem que sua responsabilidade é “puxar” seus filhos para frente, e a dos avós, acompanhar-se mutuamente, netos e avós. Os avós acompanhando os netos no começo da vida e os netos acompanhando os avós ao final da sua. Talvez essa seja realmente a origem da cumplicidade entre todos eles.

A verdade é que ser avô permite que você aproveite uma segunda oportunidade: é ser como o champanhe.

Quando tive o privilégio de escrever com Josep Roca o livro Tras las viñas (sem tradução em português). Un viaje al alma de los vinos (Após as vinhas. Uma viagem à alma dos vinhos), uma das muitas coisas que aprendi é que o champanhe é um vinho com segunda oportunidade.

“O champanhe”, me disse Pitu Roca, “é resultado de um vinho que, uma vez finalizada a fermentação, não tem muita personalidade, mas graças ao processo de acrescentar açúcares, leveduras e um pouco mais do mesmo vinho e levando-o novamente para fermentar, se torna uma bebida deliciosa”.

Após escutar todas aquelas explicações, pensei: “Como ser avós…”.

Inma Puig é psicóloga clínica.


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