Revista O Empresário / Número 173 · Dezembro de 2012
O paulistano Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular, participou das discussões do governo que acabaram por definir o tamanho exato da classe média brasileira: 104 milhões de pessoas. Mais da metade dos cidadãos do país. Para isso, o critério foi claro: basta ter renda familiar de R$ 291 a R$ 1019 por pessoa. Uma família formada por um casal e um filho, por exemplo, ganhando R$ 873 por mês, já entra no grupo.
O mínimo de renda de R$ 291 por cada membro da família, estipulado pelo governo, não é muito pouco? A família de classe média brasileira tem baixo padrão de vida?
Meirelles - É preciso entender que média é um critério estatístico. Se você pegar uma renda per capita de, por exemplo, seis mil reais, isso representará 1% da sociedade brasileira. Uma renda per capita de 10 mil reais é 0,3% da população brasileira. Então isso não pode ser considerado classe média, por que não é média, é o topo do topo de um país que efetivamente tem renda mal distribuída. Muito melhor que no passado, mas ainda mal distribuída. A prova de fogo que fizemos (no âmbito do governo) foi quando comparamos este critério com o restante do mundo. Os 291 reais, o piso da classe média daqui, é mais rico que 54% da população mundial ou seja, nós temos mais da metade da população do mundo ganhando menos que o piso da classe média brasileira. Esses dados são da Secretaria de Assuntos Estratégicos (vinculada à Presidência da República e que elaborou os estudos da nova classe média) com base nos dados do Banco Mundial, ou seja, comparado ao resto do mundo, a classe média brasileira é uma classe média alta.
A classe média não deveria viver, em tese, com mais dinheiro?
Meirelles - O que em geral acontece é que boa parte do mundo corporativo é muito autorreferente e acha que todo mundo é classe média. Que rico é apenas o Eike Batista, que quem está no topo é o Eike, mas o Eike Batista não está no topo da pirâmide, ele é o faraó. Veja: 55% da elite se acha classe média 35% da elite se acha baixa renda, ou seja, mais de um terço da elite se acha classe baixa. Pessoas que têm uma renda familiar acima de cinco mil reais, na média. Essa questão de referência é que é fundamental.
A sexta economia do mundo não deveria olhar além na hora de definir o critério, não deveria se comparar aos maiores?
Meirelles - Seria a mesma coisa de dizer que São Paulo, que é a cidade mais rica do país, só deveria olhar os Jardins (bairro nobre da capital paulista), e não o Jardim Ângela, Jardim São Luís ou Cidade Tiradentes (bairros de baixa renda per capita). Nós temos que olhar em nível mundial. E que fique claro: ninguém está dizendo que é muito dinheiro, isso é pouco dinheiro. Ninguém aqui está dizendo “olha que fortuna”. Pelo contrário, nós sabemos que é pouco dinheiro, mas isso é o retrato de um país com renda mal distribuída. E como classe média é antes de tudo um conceito estatístico, as metodologias foram estatísticas, não políticas. Foi um grupo de estatísticos que chegou a isso.