Mineiro de Belo Horizonte, o jornalista Alberto Villas, de 56 anos, é um elegante prosador. É capaz de passar horas a fio com relatos divertidos de casos e coisas que o tempo mudou. A memória prodigiosa não deixa escapar nada. São histórias daquelas de pôr os filhos na já quase extinta cadeira do papai e ali ficar. Villas lança nesta semana o livro “O Mundo Acabou!”. Pode ser lido como um volume de memórias. Mas há um outro olhar: é uma lição de como a economia moderna, de mãos dadas com a tal da globalização, enterrou produtos que fizeram parte de nossas vidas. Alguns deles:
FICHA DE TELEFONE
“Ligação interurbana era um martírio. Aí chegaram os telefones públicos e as fichas telefônicas. Eram fichas de metal, redondas, e nelas estava escrito o estado de origem. Telerj, Telesp, Telemig, Telesc. (...) Elas ficaram tão populares que viraram expressão: “Só agora caiu a ficha”.
Quem matou: por meio do celular, fala-se de qualquer lugar, a qualquer hora, sem ficha ou cartão. No Brasil, 4,7 a cada 10 pessoas tem telefone móvel. Existem 88 milhões de aparelhos em circulação. O faturamento das operadoras é de US$ 9 bilhões ao ano.
VERTICAL DA TELEVISÃO
“Eram quatro os botões de um aparelho de televisão. E nada mais. Um para sintonizar o canal – que ia de 2 a 13 –, um para controlar o contraste, e os outros dois eram os botões de horizontal e vertical. Um inferno aquela Colorado RQ que tínhamos em casa”
Quem matou: inicialmente as antenas externas e, hoje, a televisão a cabo, que assegura imagem de qualidade também para a TV aberta. No Brasil, já são 3,8 milhões de casas com sinal por assinatura e faturamento, para as empresas provedoras, de R$ 4 bilhões ao ano.
VENDEDOR DE ENCICLOPÉDIA
“Quando a campainha tocava, sexta-feira à tarde, era batata: o vendedor de enciclopédia tinha chegado (...) Um dia ele deixou um exemplar maravilhoso da Enciclopédia Britânica, mas minha mãe disse que custava muito caro. Custava mesmo”
Quem matou: o Google, dono de 43% dos 6,6 bilhões de buscas mensais apenas nos Estados Unidos, e a Wikipedia, a “enciclopédia aberta” que virou mania universal na internet
ESCOLA DE DATILOGRAFIA
“De noite, tive pesadelos com o A, o S, o D, o F e o G, minha primeira lição. (...) Na minha casa era assim. Saber “bater à máquina” era fundamental para conseguir o primeiro emprego”
Quem matou: o PC, lançado em 1981 pela IBM, e que hoje está em mais de 900 milhões de casas em todo o mundo. No Brasil, atualmente, há 19,3 milhões de micros.