Quem são, o que comem e como vivem os inadimplentes, endividados há mais de três meses, do país? Foram mais ou menos essas perguntas que a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) fizeram a 600 inadimplentes de diferentes classes sociais e capitais.
Metade deles negligencia as despesas do dia a dia: 46% sabem pouco ou nada sobre o valor de suas contas básicas, como luz, água e telefone. Outros 53% admitem ter pouco conhecimento em relação à própria renda do mês, entre salários e demais rendimentos, e 52% desconhecem o número total de parcelas das compras realizadas com cartão de crédito.
Entre os que se endividaram por descontrole ou compras por impulso, 47% reconhecem não ter feito nada para mudar de atitude. Metade desses alega não considerar o problema tão grande (52%), enquanto 34% argumentam que este hábito faz parte do seu jeito de ser e que nunca irão mudar. Já 11% afirmam que a situação não provoca nenhum tipo de incômodo.
“Apesar de a conjuntura econômica continuar afetando o bolso da população, tanto pelo desemprego elevado quanto pela diminuição da renda, ainda se vê o mau hábito do brasileiro em não controlar suas finanças", diz Roque Pellizzaro Júnior, presidente do SPC Brasil.
"Boa parte da inadimplência é reflexo de uma falta de conscientização em controlar o quanto se ganha e se gasta, provocando esse desequilíbrio no orçamento.”
Questionados sobre como lidaram com a situação de inadimplência, seis em cada dez (66%) revelam que não buscaram qualquer ajuda para resolver suas dificuldades com o controle das contas.
Nesse caso, 58% justificaram a decisão dizendo serem capazes de resolver os problemas sozinhos, ao passo que 24% afirmaram não ter dinheiro para contratar ajuda profissional e 18% não sabiam a quem recorrer.
Apenas um terço (34%) disse ter tomado algum tipo de providência, dos quais 62% pediram apoio a um amigo ou parente para organizar as contas, 19% procuraram ajuda profissional e 16% algum tipo de auxílio psicológico para ter mais controle sobre as compras e o orçamento.
Consumo, logo existo
Mais do que a falta de planejamento, a impulsividade, motivada pelo desejo de adquirir um produto ou serviço sem pensar no impacto nas contas mensais, parece ser o principal problema para a maioria.
Sete em cada dez (70%) entrevistados garantem que costumam avaliar os custos de serviços ou assinaturas para ver se podem cortá-los e 68% dizem planejar antes de fazer alguma compra.
Entretanto, nos últimos três meses, 33% fizeram compras, mesmo sabendo que seria difícil pagá-las, ao passo que 24% compraram sem pensar se conseguiriam pagar ou não e 17% fizeram aquisições sabendo que não teriam como pagar.
Além disso, 45% declararam gastar mais do que o orçamento permite e 44% quase sempre costumam ceder aos desejos e impulsos quando querem muito comprar alguma coisa.
Ainda de acordo com o levantamento, a imprudência de alguns consumidores chega a tal o ponto em que se negligencia o pagamento de compromissos para satisfazer uma vontade: 32% admitem que às vezes deixam de pagar uma conta para comprar algo que se deseja.
Além disso, 36% reconhecem que nos dias em que não estão muito bem acabam comprando coisas não planejadas para se sentirem valorizados.
“O consumo como mecanismo de alívio emocional é uma armadilha perigosa por proporcionar apenas uma satisfação temporária. No dia seguinte os problemas continuam os mesmos, com a diferença de que agora há mais um compromisso a pagar, mais uma dívida pressionando o orçamento", Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil
Nesses casos, a economista aconselha buscar acompanhamento psicológico para detectar os motivos que levam a pessoa a buscar, nas compras, o conforto e a autoestima que ela tanto procura.
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