O Brasil é um país no mínimo curioso. Países como os EUA e a Alemanha entrariam em colapso, se tivessem as taxas reais de juros brasileiras para crédito pessoal ou para capital de giro. No entanto, essa resiliência verde-amarela não deve ser motivo de orgulho, muito pelo contrário. Juros altos minam nossa capacidade de investir e de criar um mercado consumidor em taxas de crescimento relativamente baixas para um país emergente. A taxa básica de juros no Brasil, a Selic, não é a origem do problema, mas sim o que se cobra acima desta para emprestar, o “spread” Por que o spread é tão alto? Um estudo recente do Banco Central indicou que apenas dois fatores explicam 85% do “spread”: margem de lucro dos bancos (55%) e inadimplência (30%). A inadimplência é alta por dois motivos. Primeiro, nossa legislação protege pouco aquele que empresta.
Prova disso é que o crédito que mais cresce é o de financiamento de veículos e o consignado, que têm, respectivamente, o automóvel e o salário como colaterais. Segundo, seleção adversa: com taxas de juros tão altas, somente aqueles com recursos limitados e com poucas alternativas se dispõem a tomar empréstimo. Resolver o problema passa por incentivo e punição aos bancos: proteger seus direitos de cobrar, mas punir suas ineficiências e sua relutância em competir no mercado. Para os clientes dos bancos, a regulação deve promover portabilidade da conta-corrente e facilidade em escolher outro banco melhor e mais barato.
Fonte: Marcelo L. Moura é professor associado do Insper.