Aprenda a contratar

O headhunter argentino Claudio Fernández -Aráoz consultor sênior da empresa de seleção de executivos Ego Zehnder, formado no prestigiado MBA da Universidade de Stanford, é autor do livro “Grandes Decisões Sobre Pessoas”.

Por que é tão difícil contratar as pessoas certas?

Claúdio Fernández-Aráoz: A primeira razão é porque temos um cérebro velho para este trabalho. Ele não é muito diferente do cérebro de um macaco. Há dois mil anos, corríamos atrás de animais. Nossa única decisão era instintiva: vou comer esta coisa, porque se não ela vai me comer. O problema é que quando tomamos decisões sobre as pessoas não podemos agir de uma forma tão básica, se gostamos ou não de alguém. É preciso fazer uma análise mais elaborada, saber quais competências são exigidas para o cargo. Nosso cérebro nos sabota com um tipo de avaliação apenas psicológica. Você é tentado a se cercar de pessoas parecidas, mas os melhores times são aqueles que reúnem pessoas com habilidades complementares. Nós nos deixamos levar pela primeira impressão, que é muito superficial. Escolhemos alguém pelo jeito como ela ou ele se veste, se comunica e isso não está necessariamente relacionado com uma alta performance no trabalho. A segunda razão é que o nosso ensino é muito antigo. Os executivos não aprendem nada sobre como tomar decisões sobre pessoas, mesmo esta sendo a habilidade mais importante para um administrador.

É possível aprender a escolher melhor na escola?

Claúdio Fernándes-Aráoz: Claro que sim. As pessoas acreditam que trata-se de uma arte, do resultado da intuição, do frio na barriga. Mas isso é um mito. É uma disciplina que deve ser aprendida. Quando você é um administrador nada é mais importante para o sucesso da sua carreira do que acertar nessas decisões. Sua performance, sua chance de ser promovido, tudo vai depender de quem escolheu para trabalhar com você. Uma boa escolha agrega valor para a organização, além de ajudar a formar um mundo melhor onde os bons profissionais ocupam posições de maior responsabilidade.

Pequenos erros na gestão de pessoas podem comprometer a carreira do próprio líder?

Claúdio Fernández-Aráoz: Uma vez tomada uma decisão errada sobre pessoas é muito difícil emocionalmente voltar atrás. Primeiro, porque você se sente mal pela pessoa. Segundo, porque demitir alguém que você contratou significa reconhecer que cometeu um erro. É bom que isso seja feito logo porque é melhor para a pessoa e pode evitar um grande fracasso ou escândalo. O que temos que tentar é não errar para não termos que consertar depois.